Reflexão sobre a Pregação
[1] Cf. Lc 3,4b
“DEUS colocou no meu coração ambições maiores do que tudo o
que posso chamar grande” Teresa
de Saldanha
Chamo-me Flávia Lourenço, sou portuguesa, não por nascimento, mas foi
onde fui criada, desde os três meses, sou portuguesa por escolha e feitio!
Tenho 37 anos, sou Irmã Dominicana de Santa Catarina de Sena! Aceitei este
desafio de partilhar convosco algumas ideias sobre a pregação, porque quando me
pedem algo, gosto de ajudar, se posso.
Desde pequena confesso que sempre me encantou a ideia de me embrenhar
na Palavra e transmiti-la aos outros. Mulheres como Maria Madalena, Teresinha
do Menino Jesus ou Teresa de Ávila povoaram o universo dos meus heróis
infantis, numa infância que os santos e os cantores rock disputavam o meu tempo
e predileção. Mas a minha mãe e diversas pessoas encarregaram-se de me ensinar
que a pregação era um terreno interdito às mulheres!!
Mais tarde quando conheci a família Dominicana, foi com um frade que
reaprendi este sonho de criança! Como ficar indiferente a uma Ordem que tem
como modelo da pregação “Maria Madalena”? Como ignorar uma mulher como Catarina
de Sena?
Iniciei a formação, fiquei encantada, Catarina foi-se impondo não como
uma mulher do passado, mas como a mulher que a Europa precisa hoje! Depois a
uma escala nacional, aprofundei o carisma de Teresa de Saldanha, a nossa
fundadora, uma mulher que pela prudência numa época em que a religião era
apenas tolerada e as ordens religiosas proibidas, fundou uma Congregação
religiosa. Ninguém fala de Teresa de Saldanha como pregadora, ela nunca subiu
ao púlpito, nem o ambicionou, mas escreveu mais de 1000 cartas, fundou uma
Associação, uma Congregação que hoje está em sete países, e em vida fundou mais
de 50 escolas. A ambição que Deus lhe colocou no coração foi imensa e continua
a dar fruto, ela que tanto desejava anunciar Cristo fê-lo e fá-lo hoje, em cada
escola, em cada casa onde está uma Irmã da sua Congregação.
E eu? Bem eu, por vezes entro no sistema de vigiar recreios, acolher
quem precisa, entrar no frenesim que, na Europa, por vezes também se instalou
nos Conventos e oiço as pregações dos Irmãos, leio o Diálogo de Catarina, ou admiro a obra de Teresa de Saldanha, ou de
outras Dominicanas que no mundo vão descobrindo caminhos para exercer esta
missão e sinto-me orgulhosa, de pertencer a esta família. No entanto, muitas
vezes, sinto que apesar do cariz de vida ativa, parece que a minha pregação se
limita “à santa oração”. Mas quando me pus a refletir, a tentar encontrar algo
interessante para escrever, descobri esse anuncio, essa voz do espírito: quando
brinco com a criança, quando estou com um grupo de jovens, quando estou com a
minha comunidade, ou quando fechada no quatro até estou dispensada de um momento
comunitário para acabar um trabalho que me foi pedido! Descobri-me pregadora,
quando com sono me despeço das minhas Irmãs que vão dormir enquanto me vou
encontrar com os Universitários, ou quando me dizem que estou sempre no facebook, mas eu sei, Quem anuncio!
Acredito que cada dominicana é chamada a ser a “voz que clama no
deserto”[1] e convenci-me que se eu o posso fazer,
qualquer Irmã ao ler este artigo percebe que é pregadora, discípula de Cristo,
enviada por Jesus: “Vai dizer aos meus irmãos e irmãs que Estou vivo[2]”,
a dizê-lo ao estilo de Domingos de Gusmão.
[1] Cf. Lc 3,4b
[2] Cf Jo 20,1
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