Reflexão sobre a Pregação


“DEUS colocou no meu coração ambições maiores do que tudo o que posso chamar grande” Teresa de Saldanha

Chamo-me Flávia Lourenço, sou portuguesa, não por nascimento, mas foi onde fui criada, desde os três meses, sou portuguesa por escolha e feitio! Tenho 37 anos, sou Irmã Dominicana de Santa Catarina de Sena! Aceitei este desafio de partilhar convosco algumas ideias sobre a pregação, porque quando me pedem algo, gosto de ajudar, se posso.
Desde pequena confesso que sempre me encantou a ideia de me embrenhar na Palavra e transmiti-la aos outros. Mulheres como Maria Madalena, Teresinha do Menino Jesus ou Teresa de Ávila povoaram o universo dos meus heróis infantis, numa infância que os santos e os cantores rock disputavam o meu tempo e predileção. Mas a minha mãe e diversas pessoas encarregaram-se de me ensinar que a pregação era um terreno interdito às mulheres!!
Mais tarde quando conheci a família Dominicana, foi com um frade que reaprendi este sonho de criança! Como ficar indiferente a uma Ordem que tem como modelo da pregação “Maria Madalena”? Como ignorar uma mulher como Catarina de Sena?
Iniciei a formação, fiquei encantada, Catarina foi-se impondo não como uma mulher do passado, mas como a mulher que a Europa precisa hoje! Depois a uma escala nacional, aprofundei o carisma de Teresa de Saldanha, a nossa fundadora, uma mulher que pela prudência numa época em que a religião era apenas tolerada e as ordens religiosas proibidas, fundou uma Congregação religiosa. Ninguém fala de Teresa de Saldanha como pregadora, ela nunca subiu ao púlpito, nem o ambicionou, mas escreveu mais de 1000 cartas, fundou uma Associação, uma Congregação que hoje está em sete países, e em vida fundou mais de 50 escolas. A ambição que Deus lhe colocou no coração foi imensa e continua a dar fruto, ela que tanto desejava anunciar Cristo fê-lo e fá-lo hoje, em cada escola, em cada casa onde está uma Irmã da sua Congregação.
E eu? Bem eu, por vezes entro no sistema de vigiar recreios, acolher quem precisa, entrar no frenesim que, na Europa, por vezes também se instalou nos Conventos e oiço as pregações dos Irmãos, leio o Diálogo de Catarina, ou admiro a obra de Teresa de Saldanha, ou de outras Dominicanas que no mundo vão descobrindo caminhos para exercer esta missão e sinto-me orgulhosa, de pertencer a esta família. No entanto, muitas vezes, sinto que apesar do cariz de vida ativa, parece que a minha pregação se limita “à santa oração”. Mas quando me pus a refletir, a tentar encontrar algo interessante para escrever, descobri esse anuncio, essa voz do espírito: quando brinco com a criança, quando estou com um grupo de jovens, quando estou com a minha comunidade, ou quando fechada no quatro até estou dispensada de um momento comunitário para acabar um trabalho que me foi pedido! Descobri-me pregadora, quando com sono me despeço das minhas Irmãs que vão dormir enquanto me vou encontrar com os Universitários, ou quando me dizem que estou sempre no facebook, mas eu sei, Quem anuncio!
Acredito que cada dominicana é chamada a ser a “voz que clama no deserto”[1]  e convenci-me que se eu o posso fazer, qualquer Irmã ao ler este artigo percebe que é pregadora, discípula de Cristo, enviada por Jesus: “Vai dizer aos meus irmãos e irmãs que Estou vivo[2]”, a dizê-lo ao estilo de Domingos de Gusmão.

[1] Cf. Lc 3,4b
[2] Cf Jo 20,1


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