Epifania, Revelação de Deus.

Adora-O e O verás.

Escuto, muitas vezes, os meus alunos ou catequisandos a dizerem que gostariam de terem vivido no tempo de Jesus, de terem visto Jesus. Também penso que é um desejo dos mais velhos que dizemos ter fé e amar Deus. Mas hoje festejamos a Sua revelação, quando em Seu Filho se revela ao mundo (tira o véu do rosto). São João escreve: “Ninguém jamais viu a Deus; o Filho unigénito é quem O revelou” (Jo 1, 18). Mais do que ver o Seu rosto, escutar o timbre da Sua voz, ou tocar a “orla do Seu manto” de que gostaríamos é escutarmos a Sua Palavra viva como quando a pronunciou. Mas isto é muito fácil e aos mesmo tempo muito difícil. Somos tentados a pensar que já sabemos “de cor e salteado” o que está escrito nos Evangelhos. Esquecemos de rezar como o salmista: “ouvi Senhor a minha voz quando Vos invocar, tende piedade de mim e respondei-me. O meu coração pressente os teus dizeres: ‘Procurai a Minha face’! É a ta face que eu procuro, Senhor; não escondais de mim o Vosso Rosto” (Sl 27, 7-8).

O tema da Epifania faz-me lembrar um dos escritos interessantes de Nicolau de Cusa “Deus oculto”. Começa assim o diálogo entre um cristão:

G. - “Vejo-te assim prostrado, com grande devoção, a derramar lágrimas de amor, não fingidas, mas sinceras; diz-me, quem és tu?

C. - Sou cristão.

G. - A quem adoras?

C. - A Deus. G. - Quem é esse Deus que adoras?

C. - Não sei. G. - Como é que adoras tão seriamente o que ignoras? 

C. - Adoro porque ignoro”[1] .  O diálogo termina com o Gentio a bendizer Deus. 

É a “Douta ignorância” como o Nicolau de Cusa dirá noutro escrito. Saber que Deus excede tudo o que sabemos o possamos imaginar. Deus é mais, muito mais e nos convida a avançar no conhecimento e no amor. “No entanto, sendo “invisível, És visto por todos e em todo o olhar” [2]. Este jogo de palavras, nos ajuda a perceber a complexidade do mistério que é ao mesmo tempo simplicidade na medida em que Se revela. “Queres ser compreendido como algo que eu possua e permaneces incompreensível e infinito porque És o tesouro das minhas delícias cujo fim ninguém pode desejar” [3]

Deus que se revela, olha para nós e isso em alguns momentos mais difíceis da nossa vida, é o único consolo e força para não entrar em desespero. Deus fala, Deus se revela e possamos nós também testemunhar com a caridade perante os outros. Madre Teresa de Calcutá, nos últimos anos viveu a noite escura da alma mas isso não a fez baixar os braços, continuou a adorar e a praticar a caridade. Não fechou os olhos nem os ouvidos aos que sofriam mas buscou aliviar o sofrimento. Não aconteça que no fim da vida perguntemos “Senhor, quando é que Te vimos com fome, com sede, preso, peregrino… e não Te acolhemos?” (MT25).   

O ver de Deus, é atuar [4] . Ó Deus, eu não te vejo mas sei que Tu me vês, Tu me escutas e nada da minha vida Te é indiferente. Não permite, ó Deus, que nós sejamos indiferente ao Teu amor por nós, só porque não vejo o Teu Rosto mas faz-nos avançar nesta busca/encontro/busca. Ajuda-nos a prostrarmos em adoração perante a Ti, que escutemos a Tua Palavra e Te sirvamos pela caridade.

Ir Arta


[1]Nicolau de Cusa, O Deus Escondido, Faculdade de Filosofia, Braga, 1964.

[2]Nicolau de Cusa, A visão de Deus, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1988. 

[3]Ibidem, 194. 

[4]Ibidem, 148. 

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