JMJ 2019: Um sonho


Desde pequena que sonhava com as JMJ. Os sorrisos rasgados de alegria de tantos peregrinos que via regressarem até às imagens surpreendentes da TV, com tantos milhares de jovens reunidos faziam-me querer que algum dia fosse eu a lá estar… Colónia (a primeira edição que tenho memória) passou, Sidney, Madrid, Rio de Janeiro, Cracóvia passaram… mas era agora, o Panamá esperava por mim! Era agora que tudo concorria a meu favor, era agora que eu ia agarrar a oportunidade, era agora o momento certo em que Deus me desafiava a viver este “Eis-me aqui. Faça-se segundo a tua palavra.”
As JMJ no Panamá acabaram por ser muito mais do que eu alguma vez sonhei. No dia anterior à partida, na missa, tinha ouvido isso mesmo: “Quando nos encontramos com Jesus, recebemos infinitamente mais do que esperávamos.” Estas JMJ eram realmente encontro com Jesus, não só partilhado com toda a “juventud del Papa” mas com todo o Panamá, este país pequenino na América Central que é ponte entre oceanos e continentes, este país pequenino que recebia em si um pedaço do mundo, cheio de esperança. 

Não há palavras para descrever o quanto os panamenses se souberam dar: a generosidade com que abriram as suas casas, cederam os seus próprios quartos e dormiram no sofá, aproveitaram cada cantinho para acolher mais um peregrino e nos deram as chaves para entrarmos e sairmos quando quiséssemos; a atenção aos pormenores, no pequeno almoço de rei que insistiam em dar mesmo nós tendo direito a levantá-lo num restaurante, no pedir a uma amiga que nos levasse à praia, já que não tinha carro, nos “recuerdos” que iam surgindo na cama ao longo dos dias; no cuidado com cada um de nós, nas mensagens diárias pelo Whatsapp para garantir que estávamos bem, nós “bienvenidos!” que ouvíamos por toda a parte, na água fresca que nos deram quando já nos tinham oferecido um telheiro para podermos almoçar à sombra.


O Panamá é muito mais do que prédios altos, com arquiteturas únicas e maravilhosas. O Panamá é também bairros pobres mesmo à beira desses mesmos prédios. É cada criança que sabe sorrir e brincar no meio da miséria, é cada pessoa que se surpreende por ver passar um peregrino no seu bairro onde nem os padres se atrevem a ir celebrar, é cada sem-abrigo que que foi retirado das ruas por causa das JMJ. O Panamá é a riqueza e a pobreza, a opulência e a simplicidade. E o Panamá, para mim, ganhou o rosto daquela senhora idosa no meio de tantos na Via España, que se aglomeravam o mais possível junto às baias para se aproximarem o mais possível do Papa Francisco que ia passar pela primeira vez. O rosto da senhora idosa que foi tocado por aquele aceno e sorriso de um segundo, em que todas as emoções se revelaram, restando no final as lágrimas sem fim de comoção, num abraço que partilhámos em que senti um coração reabastecido de esperança. Um aceno e um sorriso de um segundo que tantos procuraram de um Pastor vestido de branco, deste Pedro escolhido por Jesus para apascentar as suas ovelhas, este Pedro que poderia conduzir e amar este rebanho em pleno pois havido experimentado em pleno a Sua misericórdia.
Assim, todos no Panamá se atreveram a dizer “Eis-me aqui.” “Eis-me aqui” como resposta a um amor que é descoberto com e como irmãos.  Este “sim de quem quer comprometer-se a arriscar, de quem quer apostar tudo, sem ter outra garantia para além da certeza de [se] saber que é portadora de uma promessa”. Mesmo que este amor tudo desarrume, há que perceber qual a nossa promessa, a nossa vocação. E a vigília, vivida no sábado, na presença do Santíssimo, com diversos testemunhos, no silêncio colossal de todos os jovens em oração, foi um momento que jamais esquecerei. Mais do que casados, padres, consagrados ou missionários, há que nos deixar amar para sermos salvos, há que nos deixar abraçar para sermos transformados, há que nos converter diariamente para que habitem em nós os sentimentos de Cristo. Há que “sonhar o futuro, aprender a responder não só porque vivo mas por quem vivo, por quem vale a pena gastar a vida”. Sobretudo, servir, a exemplo de Maria que nos acompanhou durante toda a Via Sacra, que aprendeu a estar junto à cruz, apoiando com o olhar e protegendo com o coração (Papa Francisco). Nesta Via Sacra onde juntos conseguimos ter presentes todos os que sofrem na Terra, que nos unimos a Cristo neste caminho até à ressurreição.

Como jovens, sabemo-nos o “agora de Deus”. Sabemos onde estão as nossas raízes, podemos ajudar os demais a encontrar as suas, fazendo-nos presentes, fazendo-os sentir que pertencem a alguém, que são alguém. Mais do que nunca, sabemos que esta fraternidade é o projeto de amor de Deus para a Sua Criação. As pulseiras que levei foram insuficientes para tantas trocas, as fotos com os jovens de outras nacionalidades são imensas. Os americanos e os mexicanos dançaram juntos à porta da Catedral, ao som de música tradicional panamense, a bandeira de Timor Leste viu-se esvoaçar no meio do mar de bandeiras muitas vezes, o terço de Belém, para ajuda à Fundação “Ajuda à Igreja que Sofre”, permaneceu no pulso dos peregrinos durante toda a JMJ. Fomos Cristãos, somos o Mundo e juntos seremos esta Fraternidade.
Obrigada, Senhor, por tão grande graça!

Ana Emanuel Nunes

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