Entrar e Sair

"Deus manifesta a Sua Divina Providência de todas as Maneiras."

Madre Teresa de Saldanha

 A vida passa por nós e nós passamos pela vida uns dos outros, deixamos bons e maus odores!

Tudo tem um princípio e um fim, há já uns meses que a minha colaboração, à frente da Pastoral Juvenil e Vocacional da Província (IDSCS) terminou, é tempo de fazer balanço! Faz 10 anos, que me pediram para vir para Aveiro, o que seria pacífico, mas o pedido era que assumisse a Pastoral Juvenil Vocacional e Universitária da Província. Qualquer uma delas me assustaria só por si, ainda por cima juntaram as 3!

Sinal de esperança para mim era a Irmã que estava à frente da equipa, mas passados uns 2 anos, essa Irmã precisou sair da equipa! Por muito que as pessoas acreditassem nas capacidades que não tinha, foi com medo e algumas lágrimas que entrei em Aveiro. Como realizar este trabalho sem conhecer jovens ou adolescentes? Como entrar no meio académico sem estar a fazer alguma formação, num estabelecimento Oficial? Sem dar aulas? Trabalhar com jovens na Congregação de que forma? Se a Animadora de pastoral juvenil vocacional não integra Colégios, nem ninguém na equipa o faz. Onde encontrar jovens e que fazer quando não temos as características ou as capacidades de um animador?

Como muito do que sou enquanto cristã recebi da mãe e da Paróquia, voltei-me para esta última com esperança de poder iniciar algum grupo de jovens, onde tinha mais experiência e jeito! Fui acolhida, mas disseram "não" às minhas expectativas, pediram-me para trabalhar um 7º ano. Estava cá há pouco tempo, fui com a minha Provincial a uma reunião com o D. António Francisco, as portas do CUFC estavam abertas para mim. Naquele dia nem imaginava o quanto aquele Bispo me iria marcar, pela sua forma cristológica de ser pastor. E isto foi literal, porque nesse dia, ao final da tarde passámos lá… e alguém apressado nos deixou entrar, enquanto saía, pedindo só que batêssemos a porta à saída!!! A casa estava muito bonita, mas em breve percebi que não era frequentada por jovens, apenas um grupo razoável de professores e investigadores lá almoçava.

Meu Deus, o relato vai tão lento, que pouca gente terá paciência de ler, mas já acelero! O CUFC foi uma luz, passado muito pouco tempo, caí no SNPES, perceber a Pastoral Universitária nos outros centros e dioceses e ver que em Aveiro, tínhamos de mudar, para encher a casa… Outra luz que se acendeu, foi a presença, da Ir. Maria de Jesus, das Servas da Igreja e a colaboração possível da Ir. Cláudia, do Coração de Maria.  As Irmãs já faziam parte da equipa da casa há pelo menos um ano, então iniciámos uma Oração semanal à noite, 20:30, para  tentar abrir uma casa que no meu conceito devia acolher os estudantes, quando estes não tinham aulas, à noite.

Cada semana, à terça lá saímos de casa, eu e a Ir. Maria de Jesus, abríamos o CUFC, levávamos a Oração preparada e esperávamos… Por vezes lá aparecia uma antiga educanda minha, da Guarda, com algum colega, Houve mais que uma vez, que não apareceu ninguém. Até que um dia começaram as nossas lições sobre pastoral juvenil… Uma jovem da Benedita pediu para preparar o “Pray with us” (a oração) ao estilo de  Taizé, ela quis tratar de tudo… Confesso a minha ansiedade perante o entusiasmo dela, de que viria muita gente, mas veio… E a capela encheu… Mas encheu mesmo! E passámos a dar um chá no final, a conhecê-los no Bar. Entendemos que têm de ser eles a fazer, terem o protagonismo, nós somos o background, aquela equipa quase invisível. Então fomos pedindo a colaboração dos jovens para cada terça e com o tempo, aprendemos que corrigir e ensinar a preparar uma oração dá mais trabalho, do que fazê-lo… Mas é esse o caminho. Aprendi que o tempo de tomar chá ou café no Bar podia ser tão orante para mim, como o tempo na capela… Aprendi que delegar, significa confiar… Mesmo quando os jovens falhavam e tínhamos de arranjar um plano B!

À catequese da paróquia e ao CUFC acrescentei uma colaboração com uma equipa dos Convívios fraternos, já não me podia continuar a queixar de não ter trabalho, mas este início, como todos os inícios foi duro! E se a Oração foi a resposta para nesse ano iniciar a Pastoral Universitária, também teria de ser a resposta à Pastoral da Congregação e começou “Completas com…” as Irmãs, os jovens, Maria, São Domingos, etc…Todos os meses. Fez confusão a várias pessoas na diocese, porque vinham jovens até do Porto para rezar… Foi amizade, acolhimento, oração, mas também o testemunho forte de vida, de esperança, de Consagração em Irmãs como: a Madre Teresa Ferreira do Carmo, a Ir. Samuel, a Ir. Conceição Rodrigues, a Ir. Alice Saraiva, a Ir. Letícia entre outras… E a Oração de tantas Irmãs doentes, que já na cama me acompanharam em cada atividade.

Em simultâneo ía cumprindo o plano delineado pela Equipa de PJVIDSCS, passar em cada comunidade, ter um encontro trimestral com grupos de  catequese, isto foi feito com as comunidades que desejaram. Também convidava para participarem nas atividades da pastoral Juvenil da Família Dominicana; outro objetivo foi procurar formar e envolver as animadoras vocacionais em cada comunidade, bem como envolver professores e colaboradores que estavam diretamente com as crianças, adolescentes e jovens. Caminho que não teve grande sucesso, mas ainda hoje considero válido! 

Surgiu das orações, das conversas no Ramona ou, no Bar do CUFC ou até em casa, o pedido para organizar  uma semana de voluntariado e oração. Um campo de trabalho, experiência que tive na Congregação e ligado aos convívios fraternos, na diocese de Évora, quando era jovem. A experiência que as Irmãs realizavam era um campo  de trabalho orientado para a Vocação Consagrada, com  convites específicos a algumas meninas, um grupo pequeno, que se pudesse acomodar nas comunidades. Confesso que oscilava entre os 2 modelos, embora visse na atividade uma oportunidade de formar animadores, de ter jovens que bebessem o nosso carisma, também queria que a atividade trabalhe a vocação.

Em equipa preparámos a atividade, encontrámos abertura na comunidade da Guarda, até apareceram 2 ou 3 inscrições, eramos 2 Irmãs, a postulante e uma jovem da equipa, que ficava só metade dos dias, as atividades estavam definidas, tudo mais ou menos perfeito! Parti com a primeira Peregrinação do CUFC a Santiago, organizada por mim, uns 3 jovens, destes que foram aparecendo no Pray, sem esquecer o apoio do Sacerdote e do Pedro Neto. Na Peregrinação também participou gente nova, e uns 3 foram ao Dominismissio, mas continuava um grupo pequenino, controlado. Só que ao longo dos dias o telefone tocava e era uma Irmã a dizer que tinha jovens para o Campo de trabalho, que se denominou Dominismissio. Como dizer que não havia vagas a Irmãs que se empenharam ou aos jovens que foram convencidos ou pediram a atividade… Ou seja quando em Portugal fiz as contas, o grupo eram uns 18 jovens (misto). Enviei email a todos a explicar que a atividade era difícil, qua alguns teriam de dormir no chão, agradecer a alimentação, sem reclamar, comer mesmo quando não se gosta... Enfim provoquei a ver se alguém desistia, mas nem um... Em 3 dias foi uma ginástica para arranjar atividades e para a comunidade que nos recebia, pois alimentar 5 ou 20 pessoas não é a mesma coisa, mas graças à prioresa e às Irmãs, conseguimos avançar.

O 1º Dominismissio foi um dom de Deus, apesar da cruz, das dificuldades, mostrou ser uma atividade muito válida, por isso, só a pandemia nos impediu de a realizar no verão de 2020. Mas felizmente em 2021, voltou a haver atividade, aqui em Aveiro, nesta casa, que pela minha presença devia ser o Centro da nossa Pastoral Juvenil Vocacional. 

O 9º Dominismissio foi uma atividade bastante diferente, com metade das inscrições e com um formato misto (presencial e online) novamente aqui em Aveiro, em casa com as Irmãs idosas, mas com todas as regras, por causa do Covide. Desta vez, deixei gente de fora, as inscrições tinham um prazo de 8 ou 10 dias e fechei ao segundo dia. Foi também esta a minha ultima atividade à frente e na equipa de Pastoral Juvenil da Província! Embora esteja a continuar com o blogue mais uns meses. 

Ao longo dos anos os jovens cresceram, alguns fisicamente, mas outros também espiritualmente, mas nós Irmãs também aprendemos a delegar e a acompanhar. Deixar a Pastoral Juvenil não é uma decisão fácil, claro que foi muito rezada e conversada, mas é feita na convicção de que é vontade de Deus e, absolutamente necessário por motivos pessoais! Mas tenho a certeza de que cada atividade realizada pela atual equipa ou outra estará no meu coração e Oração.  

Destes 10 anos fica-me uma enorme gratidão a todos os que foram colaborando comigo e em especial aos jovens! Haveria muito para dizer, mas por vezes as palavras são insuficientes, sobretudo para falar da ação de Deus e da generosidade das pessoas! Eu sei que foste tu Senhor, que com este frágil instrumento tocaste melodias tão belas. Também sei que nunca toquei um solo, por trás das minhas ações estava uma equipa, que teve/ tem jovens fabulosos; uma comunidade que me ajuda e acompanha na Oração; uma Provincial que me pediu este serviço e portanto me acompanha e a própria Igreja. 

Há pouco tempo pedi a várias pessoas que me definissem uma Consagrada, alguém, por acaso da minha família, disse que uma Irmã era alguém com um coração muito grande! Muitas vezes peço a Deus essa capacidade de amar... Tendo consciência das muitas falhas e, que por vezes trocos os nomes, mas a todos tenho no coração e na Oração! Confiem, rezem, façam a vossa parte que Deus fará o resto!

Bendito Seja Deus!

Ir. Flávia Lourenço, op    

Comentários

  1. Foi formidavel eu nao era capaz de fazer nem metade ...testemunhar Jesus Cristo é o essencial ...e se falhamos isso na vida...
    obrigada ir. Flavia pela partilha

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  2. A minha amiga irmã sempre teve um grande coração. Obrigada pelo testemunho e por seres um dom de Deus. Parabéns por tudo o que és. Que Deus e Nossa Senhora te ilumine sempre. Beijinhos

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  3. Boa noite irmã, que Deus a abençoe, pela primeira vez comecei a ler um texto no blogue e tive vontade de saber mais e mais, pela narrativa sinto a presença de Deus é sem dúvida que ele é o todo poderoso, obrigado irmã pela partilha,amei!

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    1. Muito Obrigada! Posso saber como te chamas? Este blogue tem textos meus, de outras Irmãs, de muitos jovens! Procura dar a conhecer quem somos, dar testemunho de Cristo, muitas vezes, através das atividades de pastoral juvenil vocacional...

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