Cristo Rei
Pronto, visto a minha melhor roupa, bem, não é a melhor,
segundo os critérios da minha mãe... Mas sim, estou baril!! E saio de mãos nos
bolsos… Quero escolher bem o sítio, quero olhar o rei nos olhos, fora da
multidão…
A estrada deserta, a única estrada de acesso à cidade…. E na
subida os batedores e todos aqueles carros vão abrandar… Sim, porque um rei que
se preze, virá com polícias e sirenes, não é?
E passa uma “mamã”
com várias crianças, vão no meio da estrada, na algazarra das crianças, como se
tudo fosse delas… vão-se distanciando… Sinto algo ou alguém a tocar-me nas
pernas… olho, um menino havia ficado ali a olhar para mim… e mãe já vai longe…
Aflito não vá estorvar o meu esquema… Agarro-o e berrando corro atrás da
“Mamã”…
Volto à minha vigia, agora mais cansado e transpirado… Vejo um ponto no horizonte…
Será? Não, é só um mendigo, evito olhá-lo, não o quero ali quando o Rei passar…
Estende-me a mão, fala-me de fome… reviro os bolsos, apenas
umas bolachas, entrego-as e procuro que se despache… Continua a estender-me a
mão…
"Um outro tipo de Natal"; autor desconhecido |
Quando finalmente fico só comtemplo o horizonte… sinto a
barriga colada às costas… E o Rei? Vejo uma nuvem… assusto-me e escondo-me nas
giestas, não é o cortejo triunfal que esperava, são soldados… Mas transportam
um condenado… Como é possível nos dias de hoje? É como se fosse um filme…
E Ele passa… carregando a cruz… e olha-me… e permaneço
imóvel… E quero dar algo, mas o meu corpo está imóvel… revolvo os bolsos…
apenas um rebuçado… quero dar-lho…
Mas só vejo uma nuvem de pó… E choro… Porque afinal Senhor
és um rei estranho que queres contar comigo e eu não te dei tudo… E aperto o
rebuçado na mão, enquanto as lágrimas me rolam na face…
Acordo com os gritos da minha mãe, ainda não estás despachado?
Vamos atrasar-nos para a missa… E eis que na minha mão direita bem apertado está
um rebuçado desfeito, enxugo as lágrimas… e no meu coração a alegria e a
segurança de quem “é amado pelo Rei”.
Comentários
Enviar um comentário