Através de amigos...
Em contagem
decrescente para a 6ª edição do Dominis
Missio, foi necessário atender a alguns detalhes práticos – o que levar
para a viagem, por exemplo -, mas iniciei também, dentro do possível, uma
preparação espiritual, procurando consciencializar-me da responsabilidade
inerente ao projecto que integrara. Conforme nos fora advertido, “o turista
exige; o missionário agradece”. A cada novo dia, aproximava-se a data da
partida rumo a Estremoz e, com esta, intensificava-se o chamamento à abnegação,
ao desapego e à paciência.
Na longa viagem
de autocarro que nos levaria até ao Alentejo, comecei a pôr em causa se tomara
uma decisão acertada e até que ponto eu, com a minha timidez e limitações,
estaria à altura do que fora chamada a realizar. E, na verdade, a chegada a
Estremoz revelou que seria essencial que cada elemento do grupo desse o seu
melhor a fim de que tudo culminasse na glória do Senhor. Mas Deus É fiel e, em
conjunto com as dúvidas, trouxe-me tranquilidade e empenho. Enquanto
celebrávamos a Eucaristia debaixo da abóbada celeste, catedral sublime do
Divino Arquitecto, soube que não estava ali por engano. Independentemente da
natureza das motivações que ali me haviam conduzido, o Senhor estava disposto a
purificá-las e fazê-las contribuir para meu bem e Seu louvor. Tocou-me o amor
com que foi celebrado o Mistério Eucarístico. Retive em particular duas
recomendações: primeiro, que saudássemos os nossos irmãos na fé com a ternura
que dedicaríamos ao nosso muito amado Jesus; depois, que recebêssemos a Jesus
Sacramentado sorrindo, cheios de alegria, pondo de parte semblantes carregados
e expressões de enfado.
Ao longo de
uma semana de missão – no meu caso, dedicada aos idosos, em especial no
Recolhimento de Nossa Senhora dos Mártires -, temi não ser capaz de espalhar a
alegria de Deus. Porém, comecei a entender que nada mais me era exigido do que
amar – de forma pura, verdadeira e simples, sem arrebatamentos ou euforia, mas
com paz de espírito, tranquila e paciente. Sabia que Nosso Senhor observava o
meu esforço. Compreendi que tinha de me render, de deixar de querer controlar
todas as circunstâncias. Precisava de criar espaço no meu coração para que o
Espírito Santo actuasse em mim.
Sinto que me
faltou espírito de entrega, em particular no início da missão. Reconheço que
cheguei mesmo a ser ríspida com uma amiga enquanto preparávamos os cânticos
para animar a Eucaristia de Sábado. As palavras dessa homilia atingiram-me de
modo acutilante: quando surgem divisões no seio de grupos cristãos, as
motivações das pessoas não provêm de Cristo, visando somente o próprio
protagonismo. Contudo, na Igreja só há lugar para um protagonista, Cristo.
Soube de imediato que falhara. Felizmente, pouco tempo depois, foi-me concedida
a graça de receber o Sacramento da Reconciliação, no qual me foi aconselhado
que deixasse fluir o amor de Deus – amor infinito, sem limites no tempo ou no
espaço -, mantendo desimpedido o seu curso sereno pelos caminhos da vida. Em
vez de bloquearmos o Amor Supremo, cabe-nos ser seus fiéis transmissores.
Aquando dos momentos de partilha, verifiquei que não precisamos de viver a vida em êxtase, sempre em intensidade máxima, para que aquilo que experienciamos seja verdadeiro. De facto, a santidade não tem de ser “lamechas” ou estereotipada. Consiste, simplesmente, na “normalidade do bem” e em “fazer bem o bem sempre”. Não implica grandes feitos nem actos extraordinários – os incontáveis gestos banais da rotina diária bastam, desde que realizados pelo amor de Deus. É certo que uma semana de missão não poderá, por si só, mudar radicalmente a realidade da população de Estremoz; mas é minha esperança profunda que Deus tenha em consideração o amor que cada missionário colocou na obra que nos confiou, fazendo-a prosperar. A missão não se destina a confortar o coração do missionário, conforme nos foi explicado no decurso de uma celebração da Eucaristia. A cada hora de serviço nos lares, infantários, CERCI ou em qualquer outro lugar de missão, anseio que se tenham tornado nossas as palavras do Salmista: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao Vosso nome dai glória” (Sl. 115:1). Deste modo, sem requerermos a aclamação dos homens para a prática do bem, estaremos mais perto da humildade evangélica que Jesus nos ensinou.
Aquando dos momentos de partilha, verifiquei que não precisamos de viver a vida em êxtase, sempre em intensidade máxima, para que aquilo que experienciamos seja verdadeiro. De facto, a santidade não tem de ser “lamechas” ou estereotipada. Consiste, simplesmente, na “normalidade do bem” e em “fazer bem o bem sempre”. Não implica grandes feitos nem actos extraordinários – os incontáveis gestos banais da rotina diária bastam, desde que realizados pelo amor de Deus. É certo que uma semana de missão não poderá, por si só, mudar radicalmente a realidade da população de Estremoz; mas é minha esperança profunda que Deus tenha em consideração o amor que cada missionário colocou na obra que nos confiou, fazendo-a prosperar. A missão não se destina a confortar o coração do missionário, conforme nos foi explicado no decurso de uma celebração da Eucaristia. A cada hora de serviço nos lares, infantários, CERCI ou em qualquer outro lugar de missão, anseio que se tenham tornado nossas as palavras do Salmista: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao Vosso nome dai glória” (Sl. 115:1). Deste modo, sem requerermos a aclamação dos homens para a prática do bem, estaremos mais perto da humildade evangélica que Jesus nos ensinou.
Para mim, o Dominis Missio não se limitou a uma
semana de voluntariado. Tratou-se sim de uma experiência espiritual comunitária
e contemplativa. Afinal, mesmo por entre a azáfama das tarefas que nos haviam
sido confiadas, houve sempre espaço para Deus, para o silêncio e para o outro.
Do Dominis Missio trago uma sensação
de entrega, a premência de confiar em Deus e a alegria de partilhar a minha fé.
E, sobretudo, experimentei a misericórdia inefável do Senhor, que nunca
desistiu de mim, que me concedeu não segundas ou terceiras oportunidades, mas
vigésimas e trigésimas; que me conduziu, por estradas inesperadas, até
Estremoz, até pessoas tão especiais com quem pude partilhar uma semana que
recordarei para sempre.
Para todos os
que pretendem abraçar o Dominis Missio
e se vão fazer à estrada, sei como é crucial prepararmos bem a nossa bagagem e
não nos esquecermos de nada. Por isso, não se esqueçam do mais importante:
tragam-se a vós mesmos. Tragam os vossos defeitos e as vossas limitações, mas
cheguem de coração preparado para amar. Deixem que Jesus cure as vossas feridas
e vos ensine que só Ele É o caminho, a verdade e a vida. Tenho a certeza que,
então, os versos de uma das canções mais queridas do nosso Cancioneiro se
tornarão reais em vós:
“Tudo isto
me é dado
Mesmo sem eu
o merecer;
Se não o
recebo como dom,
Nunca o
saberei agradecer.”
Cláudia
Oliveira, Agosto de
2017.
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