Missões: Quem vai no volante?
Preparação do espaço de Acolhimento do CUFC no Enterro, em 2014 |
Desde pequena que, ao ver na TV
crianças pobres do outro lado do mundo, sonhava ir e dar-lhes o pão da boca e
do coração: Jesus Cristo, como eu o havia recebido e amado! Fui descobrindo que
este desejo de ir e ajudar era comum a outros jovens até de outras religiões ou
até sem religião alguma! Quando vi o curso universitário a chegar ao fim
percebi que podía ir uns meses, um ou dois anos, mas que Cristo me pedia a vida
toda!!! Foi uma decisão com muita luta entre "ser" e
"ir fazer".
Pensei destinguir "Missão
ad gentes" e "Missão intra", mas creio que todos sabemos esta
diferença... Até porque a leitura do Evangelho de hoje (Mc 10, 35-45)
iluminada pela reflexão do D. António Couto[1] me arrasta num rodopio de
ideias... O voluntariado aparece-nos sempre como uma forma de sair de nós
próprios, de ajudar os outros e vivenciar a nossa dupla alegria na alegria do
outro... na descoberta de novas culturas e muitas vezes até um país novo.
E porque todos conhecemos
alguém que já fez missão e, transmitiu-nos que foi espetacular, vemos as fotos,
para alguns quanto mais exótico for o país, maior é o apelo que ecoa... E eu não sou exceção. Nestes ultimos anos
descobri a missão de preparar, rezar, enviar, rezar, acolher, rezar, desafiar…
Mas para
quem está deste lado, quem envia sabe que cada vez os períodos são mais
curtos, que hoje é dificil alguém manter um período de missão mais longo, com
exceção dos religiosos, que pelo Espírito Santo e a obediência e se calhar um
correto discernimento mais do que irem em missão, vivem esta dimensão de forma
existêncial. São missão.
E o engraçado, que as
desistências, se for um período mais longo, prendem-se com as saudades da
família, dos costumes, das necessidades, a dificuldade de manter a rotina,
quando o agradecimento e a compensação não são tão imediatas.
Olho
para o Evangelho e apesar de estarem no caminho com Jesus, Tiago e João querem
assegurar o melhor emprego, o melhor salário, o posto mais importante, neste
reino, que enquanto judeus esperavam que Jesus instaurasse!
Também é interessante perceber
a frustação do grupo dos apostolos por aqueles 2 se tem antecipado, parece que
todos queriam ser os primeiros! Estes homens, apesar daquele tempo todo de
formação com o Mestre, ainda permaneciam nos seus esquemas mentais... Jesus
vira tudo de cabeça para baixo, apresenta serviço, o amor, identifica-se com "o
servo de Javé" de Isaías.
Perante esta perturbação entre os
Apostolos, segundo, D. António Couto, “Jesus
chama-os todos para si, para lhes dizer ao coração que há os CHEFES deste mundo
que mandam e tiranizam e tiram a vida, e há os SERVOS que servem e dão a vida
por amor, isto é, justificam. E aí está Jesus a apresentar-se de novo como
verdadeiro Mestre pró-ativo, que sabe o CAMINHO, ensina o CAMINHO, faz o
CAMINHO, é o CAMINHO: veio para SERVIR e DAR A VIDA por amor.”[2]
E nós, todos nós, jovens e menos jovens, leigos e consagrados, lá no fundo, às vezes até de forma inconsciente continuamos a pedir com Tiago e João: Dá-nos o melhor lugar... E Jesus que sempre nos ouve... Muitas vezes faz-nos a vontade, desinstala-nos e permite-nos a vivência da cruz. Devagarinho abre-nos o coração à missão, não a que eu quero, mas a que Ele sonhou para mim. Entendemos que partir ou ficar não é o importante, nem a forma como nos entregamos, missão é só entregar o volante a Cristo. Já no voluntariado sou eu que quero, que me dou. Para o cristão a felicidade é assumir a missão, assumir a cruz, descobrindo quem a carrega connosco, quem nos Ama "até ao infinito e mais além".
[1] https://mesadepalavras.wordpress.com
[2] (https://mesadepalavras.wordpress.com/2021/10/15/um-caminho-novo-se-abre-a-nossos-pes-4/)
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