Uma mulher

Uma mulher e sexta-feira Santa    

Peniche, 2018
Hoje é um dia muito diferente, consoante as sensibilidades de cada um... Uns encontram no feriado a possibilidade de ir ver o mar... De ter um fim-de-semana prolongado... Visitar a família, comer iguarias típicas... Afinal é Páscoa!!! Para alguns é a possibilidade de trabalhar mais, de aproveitar os turistas, de procurar equilibrar a carteira esvaziada na Pandemia. Para outros é um feriado religioso, esta foi uma noite de vigília. Cristo procura a vontade do Pai, debalde pede aos discípulos: Vigiai e orai comigo... Para uns é o desespero de quem entregou à morte o amigo, o líder, a Vida! Para muitos a negação, a fuga, a confusão: quem era este homem? 

São as mulheres e o discípulo mais novo quem permanece... É tudo ao contrário do seguido pelas regras religiosas e sociais do povo judaico, da maioria dos povos... Ainda hoje em tantos sítios, tantas culturas e tradições a mulher é ignorada... Desprezada... Hoje comtemplo a cruxificção  de Cristo e o sofrimento de Maria, em tantos mortos: russos e ucranianos... Em crianças nascidas em qualquer lado, ao som de bombas... Em soldados feridos e em tantas mulheres que choram a morte dos seus, que pegam numa arma, que partiram como refugiadas, que foram saqueadas, violadas, despidas da sua dignidade... Entre vários artigos que li sobre a guerra... Carrego Vera de 83 anos, a idade do meu pai, há anos que cuidava do marido acamado, foi violada por um soldado russo, de quem podia ser mãe... Só as dores a lembram que está viva... Preferia ter morrido... E fica um nó na minha garganta!!! 

Por isso à vossa reflexão e oração deixo 4 textos de poetas portugueses, sobre Maria e a sua dor e, hoje continua a dor de tantas  "Marias" não só na Europa, mas em todo o mundo....

Hoje Maria recebe o Seu Filho morto nos braços...  

«Vejo-te ainda, Mãe, de olhar parado,

Da Pedra e da tristeza, no teu canto,

Comigo ao colo, morto e nu, gelado

Embrulhado nas dobras do teu manto» (Torga, Miguel)

 

                                 «Ó visão, visão triste e piedosa!

                                        Fita-me assim calada, assim chorosa…

                                        E deixa-me sonhar a vida inteira» 

                                                            (Quental, Antero de)

 «Oh Virgem de Nazaré,

Oh Mãe de Jesus

Lírio aberto aos pés da cruz,

Cujas pétalas de luz

Vertem lágrimas de fé» (Conde de Monsaraz, 

[Papança, António Macedo])

 

                                                                                        «Junto da cruz, que estremecia ao vê-la

                                                                                        Chorou, baixinho, a Mater Dolorosa:

                                                                                        E a terra, em volta, soluçou com ela» 

                                                                                        (Oliveira, António Correia de)

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