As irmãzinhas!
No dia 27 de março de 2017, As irmãzinhas vieram cá! As
irmãzinhas vieram! As irmãzinhas! – É assim que o Sr. Manuel fala acerca de
nós. Vive sozinho, nas traseiras de uma casa que alguém lhe emprestou. É viúvo,
não tem filhos, vive sozinho rodeado de cães e gatos, a quem alimenta. Para se
aquecer trás a lenha para dentro de casa e ali faz o lume na chaminé. A comida
vem do lar, assim como a limpeza da sua roupa, mas de resto está só. Quando o
visitámos na semana passada ficou de lágrimas nos olhos, marcado pela tristeza.
A sua solidão e pobreza impressionou-nos. Todas as manhãs vai buscar pés de
frango para cozer para os cães. Hoje chamava pela sua cadela, que foi ter os
filhotes algures e ele não sabe dela. Faz-lhe falta. Os cães e os gatos são a
sua companhia dia após dia. A nossa visita deu-lhe conforto e alguma alegria.
Não conseguimos ficar indiferentes ao que vimos naquela casa e procuramos
fazer-lhe chegar alguns bens de primeira necessidade. Agradeceu-nos com um
sorriso e com lágrimas nos olhos. Hoje levamos até ele o sacerdote para que se
confessasse pois assim manifestou esse desejo. Terá sido mais conversa do que
confissão, mas para ele foi tempo de atenção e dedicação. Propusemos-lhe ir
para o lar, onde pode ser mais bem cuidado, contudo um dia ele pensa uma coisa
e no outro pode já não querer. A despedida foi emotiva. As irmãzinhas vieram cá
com o senhor padre – ouviu-se repetidamente. E enquanto nos afastávamos ele ia
dizendo: adeus irmãzinhas, adeus irmãzinhas. E na memória fica a frase do
evangelho: estava sozinho e doente e
fostes visitar-me. Ali está Cristo tão presente e tão vivo, como podíamos
ficar indiferentes?!
A par do Sr. Manuel visitamos
também o Sr. Joaquim. Um caso parecido de solidão. Está viúvo à sete anos, sem
filhos e mais ninguém tem. Vive sozinho e aprendeu a fazer tudo depois de ter
ficado viúvo. É ele que zela a casa e faz a comida, diz que nem sabia quanto
custava o pão, pois era a mulher que fazia tudo. Na fruteira a semana passada
apenas vimos uma maçã. Ali estava ele sozinho ao lume, chorando por nos receber
em sua casa. Como ficar indiferente à sua solidão?! Hoje voltamos lá com o
sacerdote e também aqui terá sido mais conversa do que confissão. Promete-nos
ir ver a santinha (imagem peregrina de Fátima) quando esta chegar na
quarta-feira. Ela vem mais cedo dizemos-lhe. Saímos e deixamo-lo com o um
sorriso no rosto.
Pelo menos para duas pessoas desta aldeia esta semana fez a diferença
nas suas vidas. O que fizestes a um
destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes.
É Deus que vem e se faz presente
no meio de nós. Não O encontramos lá nos altos montes, ou nas grandes igrejas,
encontramo-Lo nesta simplicidade, nesta solidão, nesta pobreza. É aqui que Ele
se faz constantemente presente. É aqui que eu O vejo!
Ir. Ana Margarida Lucas
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