O meu sexto Dominismissio

Por algum motivo Jesus não começou a sua parábola com “O semeador saiu a colher”. Porque o semeador iria sair defraudado. Ou porque não colheu o que procurava, ou porque colheu e viu que, hum, afinal não é suficiente. Nunca é suficiente, não é? Quando só queremos colher acontece-nos isto, não encontramos e nem reconhecemos as coisas importantes, elas passam-nos ao lado. Esta foi uma das lições que recebi ao longo dos seis Dominismissios em que participei, e que tem sido uma verdadeira “caminhada”. Aliás, esta palavra calhou-me aleatoriamente numa das actividades de reflexão este ano... Aleatoriamente...
Caminhada em vários sentidos.
De saída da minha bolha de conforto e segurança, de descoberta do potencial dentro de mim, de nós, para estar com um idoso abandonado num lar, uma criança de uma casa de acolhimento e fazer a diferença, mesmo nunca tendo feito nada parecido: 2012, Guarda.
Do poder da autenticidade, e de aceitar quem nós somos, sem máscaras. Amarmo-nos integralmente. Perdoar-mo-nos e até rirmos pacientemente dos nossos dilemas de ego, inquietações humanas, perfeccionismo e urgência de ser aceites: 2013, Aveiro.
Da curiosidade do outro, a sua descoberta, de uma forma sincera. Os abraços, os sorrisos, a atenção, o tempo... afinal o amor incondicional de que fala Jesus nós já o conhecemos e já o vivemos... às vezes está é esquecido... 2014, Portimão.
De Estar. Rezar. Amar. De verdade. Ultrapassar o fazer por fazer. Ultrapassar as orações “postiças”. Ultrapassar aquela máscara de amor que exige, se auto-promove e tem medo de entrega e compromisso: 2016, Castro Daire.
De respostas, por exemplo à clássica pergunta: o que te motiva? Será mesmo a ajuda ao próximo? Ou que o próximo ajude a tua auto-estima? Este foi o Dominismissio das pseudo-motivações frustradas, da auto-consciência, da aceitação do amor e perdão de Deus, mesmo aparentemente não merecido: 2017, Estremoz.
Da busca de Deus no meio da tragédia. Que sentido tem a vida perante a existência injusta do mal? Este último ano, reformulei a clássica pergunta de vocação de “o que Deus quer para a tua vida”? Se isto parece muito abstracto, pergunto “o que a felicidade quer para a tua vida”? Quanto mais conscientes de nós mesmos, dos nossos desejos e inquietações... mais responsabilidade em arriscar e crescer, não? 2018, Pedrogão Grande.
O semeador saiu à rua todos estes anos. Todos estes campos de trabalho foram diferentes e especiais à sua maneira, conseguiram comover e incomodar, responderam e questionaram, mostraram Deus e mostraram os outros, apresentaram-me a mim mesmo. Quando olho para a Guarda de 2012 e Pedrogão deste ano vejo uma coisa: o pessoal que aceita isto acredita mesmo. Acredita mesmo que a proposta de santidade de Jesus não é utopia. Porque já está a acontecer. Porque acredito que toda a gente (até quem não acredita, sabes?) já se sentiu num estado de amor sereno, optimista, esperançoso e feliz, em vários momentos da sua vida. Já fez o bem sempre. A questão é... será que já foste santo e não sabias? 
O semeador saiu a semear...
 Ivo Machado 

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