Uma mulher especial
Hoje escrevo sobre um tema que acho que toca os jovens e os menos jovens... Mas um tema que assusta muito e que poucos vão ler até ao fim, logo coloca-se a questão, porque escrevo? Em primeiro lugar a um nível muito pessoal como catarse, mas sobretudo, porque muitos jovens ou menos jovens também precisam desta catase, de enfrentar este assunto, que às vezes parece tábu, refiro-me à MORTE.
Chamava-se Maria da Conceição, ou melhor, Ir. Conceição, como sempre a conheci, foi minha Irmã, minha amiga e até minha "mãe", vivemos juntas em Lisboa e 6 anos em Aveiro. Mulher simples, que apreciava as pequenas coisas: o mar; as flores, e como gostava de flores e de fazer arranjos; o canto, a música como forma de oração; a comida, sempre boa, mesmo quando esta sofria de defeito ou excesso de algum condimento. Valorizava o termos alimento e sofria por todos os que não tinham, mais do que com os de África ou outro país longíquo, eram aqueles que estavam perto que mais a incomodavam. E histórias de fomes apaziguadas, de água, gás. eletricidade ou rendas pagas, são tantas as que me lembro, apesar de estar certa, que muitas já esqueci. Até no Hospital lhe custava estragar comida, mesmo agora, neste último internamento, em que já lhe era muito difícil comer, sobretudo alguns alimentos.
Uma mulher especial, alegre, com um sorriso cativante, mesmo no sábado, quando aguardavamos os bombeiros para vir para casa, uma doente e sua família foram despedir-se dela, e o seu sorriso era tão lindo, que penso que nenhuma delas percebeu o quão doente ela estava...
Muitas vezes pensamos que a força e a coragem são a ausência do medo, ela ensinou-me, que até as grandes senhoras tem medo... Medo do desconhecido, da solidão... E mesmo a confiança que temos em Deus, a quem entregámos a vida; a juventude, como um cheque em branco; às vezes treme, como a chama da vela ao vento! E a vida é um processo e, a última etapa, nem sempre é simples! Às vezes vivemos com as pessoas e parece que não as conhecemos, não é por acaso que a Santa Sé exige num processo de beatificação ou canonização saber como a pessoa morreu!
Acompanhar em comunidade esta Irmã nos últimos dias, foi rezar e perceber o caminho de aceitação de cada um, foi aceitar, a sua preocupação connosco, "Já almoçaste?" quando na realidade era ela que precisava de ajuda para se alimentar. Foi dividir a beira da sua cabeceira com outra Irmã, foi em comunidade, com a sensibilidade de cada uma, proporcionar todo o conforto! Foi acompanhar cada minuto, sabendo que quem ama só deseja o melhor do outro, perceber as reações da pessoa, dizer a palavra de carinho, exortar à confiança em Deus e aceitar os movimento do corpo, aquilo que é fisiológico.
Muitas vezes pensamos que a força e a coragem são a ausência do medo, ela ensinou-me, que até as grandes senhoras tem medo... Medo do desconhecido, da solidão... E mesmo a confiança que temos em Deus, a quem entregámos a vida; a juventude, como um cheque em branco; às vezes treme, como a chama da vela ao vento! E a vida é um processo e, a última etapa, nem sempre é simples! Às vezes vivemos com as pessoas e parece que não as conhecemos, não é por acaso que a Santa Sé exige num processo de beatificação ou canonização saber como a pessoa morreu!
Acompanhar em comunidade esta Irmã nos últimos dias, foi rezar e perceber o caminho de aceitação de cada um, foi aceitar, a sua preocupação connosco, "Já almoçaste?" quando na realidade era ela que precisava de ajuda para se alimentar. Foi dividir a beira da sua cabeceira com outra Irmã, foi em comunidade, com a sensibilidade de cada uma, proporcionar todo o conforto! Foi acompanhar cada minuto, sabendo que quem ama só deseja o melhor do outro, perceber as reações da pessoa, dizer a palavra de carinho, exortar à confiança em Deus e aceitar os movimento do corpo, aquilo que é fisiológico.
E em mim, ficou a gratidão: pelos fármacos que retiram a dor, pelo apoio imensurável da enfermeira, por todos os profissionais de saúde, pelo seu profissionalismo, carinho e compreensão, por todos os doentes e familiares, que se cruzam em quartos e corredores, que partilham vida, dor e esperança. Gratidão a Deus por tudo o que foi esta mulher na minha vida e na vida de tantos que tem vindo visitá-la, gratidão por me poder despedir, por nos podermos despedir... Por cumprirmos a tradição da Ordem e cantarmos a "Salvé Rainha" e durante a mesma ver o ultimo suspiro sereno de entrega confiante! Por saber que está em paz e ver as cores suavizarem...
Na hora da morte é a verdadeira vida que se revela!
Descansa em paz Ir. Conceição, tu que deste tanto...
Ir. Flávia Lourenço, op
Belo testemunho Ir.Flavia.
ResponderEliminarMuito obrigada!
Eu também a admirava muito.
Ricas palavras, como é bom conhecer o que se desconhece. Viver bem e morrer santo. Agradeço muito o testemunho nesse rico texto.
EliminarEdmilson Ferreira
Muito lindo e rico testemunho Ir Flávia Eu também admirava muito a Ir Conceição. Muito obrigada Agradeço a Deus o que ela foi para cada uma de nós
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