ENTRE TANTOS - Tu és obra de arte de Deus

No outro dia, esta frase apareceu-me pelo feed do Instagram e não me saiu da cabeça o resto do dia. Marcou mesmo, sabem? Imaginar-me arte, imaginar-me beleza, imaginar-me como algo sublime, imaginar-me manifestação dos sentimentos, experiências e personalidade do meu Criador, digna de ser contemplada e admirada… não dá para entender a dimensão de tudo isto!
Mas depois pensei em S. Paulo que fala em como cada um de nós é um vaso de barro que transporta a maior riqueza de si. Pensei nos relatos da Criação, em que Deus nos molda com as suas próprias mãos e nos dá vida. Em pequenina, lembro-me de me maravilhar com uma loja de artesanato em Santa Luzia, cheias de peças de artesanato de olaria com funções distintas, desde o vaso para a planta crescer, desde a caçoila para cozinhar, desde o assador para a chouriça, desde o prato para servir, desde a caneca para beber. E meti-me no seu lugar: Eu, Ana-Caneca, encontrada por alguém que disse: “Era mesmo disto que andava à procura!” e que descobria que não precisava de ser o grande cântaro, estava feliz assim. Eu, Ana-Caneca, que achava que ter uma asa era deselegante e que na verdade sonhava era em ser um copo todo esbelto, percebia que o que via como desvantagem tinha sido exatamente o que me tinha agora feito ser escolhida por alguém. E, finalmente, estava feliz assim. 
Mas depois pensei na Monalisa no Louvre e em como tantos turistas o visitam só para poder ter a oportunidade de a ver. Pensei que, para muitos outros, é só um quadro, com um rosto enigmático de uma mulher mas que, para os maiores peritos, é uma obra-prima, com técnicas inovadoras para a sua época, pintada por um dos maiores artistas de todos os tempos. Pensei no seu valor. E meti-me no seu lugar, eu ali retratada numa moldura chique, com um sorriso um pouco mais rasgado que, tipicamente, me faz fechar os olhos meia chinoquinha. Eu, AnaLisa, passava o dia a ouvir “Que encanto!”, “Uau, impressionante!”, “Fascinante!”… e estava feliz assim. Eu, AnaLisa, que achava as minhas olheiras e as borbulhas aqui e ali deselegantes via-as agora em perspetiva, enquadradas num rosto que se tornava esbelto aos olhos dos demais. E, finalmente, estava feliz assim. 
Mas depois pensei nos Sami, um povo nórdico, com as suas joik. Pensei em como cada joik é composta especificamente para refletir uma pessoa, um local ou um acontecimento; não uma joik acerca de alguém, mas sim retratar uma pessoa através de uma joik. Pensei em como, à nascença, um Sami recebe a sua joik que o acompanha, quase como um totem, no quão pessoal esta forma musical é. E meti-me no seu lugar: Eu, Ana-joik, uma melodia ao som do vento, a tocar os corações que me ouviam, a dá-los a sentir algo, e estava feliz assim. Eu, Ana-joik, com dissonâncias aparentemente deselegantes que, em harmonia com as vozes dos demais, resultava na música mais esbelta alguma vez cantada. E, finalmente, estava feliz assim.

Mas depois pensei na Natureza, a maior das artes: na beleza que há na vastidão no mar, na beleza que há nas cores de um pôr-do-sol, na beleza que há na infinitude de um céu estrelado, na beleza que há na gargalhada de uma criança, na beleza que há no rosto enrugado de um idoso. E meti-me no seu lugar: Eu, Ana-Concha, a desvendar-me no areal, já deselegantemente partida com tantas voltas da vida e ainda fascinar com as minhas cores esbeltas. Eu, Ana-Concha, que me achava mais uma no meio de tantas conchas, tinha algo de especial. E, finalmente, estava feliz assim. 
É difícil olharmo-nos a um espelho e contemplar-nos. Desafio-te: encara-te durante 1 minuto ao espelho. Bem de frente. Olhos nos olhos. E repete para ti próprio: Eu sou obra de arte de Deus. Repete até acreditares. Repete pelo menos até conseguires ponderá-lo como uma possível verdade. Repete até encontrares uma razão. Não te peço mais, apenas uma razão no meio de tantas outras que ainda estão escondidas aos teus olhos. Tenho feito o mesmo e continuarei a fazê-lo. Porque acredito que isso me trará liberdade para ser o que Deus me destinou a ser: filha amada de Deus. 
É difícil olhar os outros e contemplá-los. Desafio-te a pensares durante 1 munto naquela pessoa que ultimamente que te tem tirado do sério. Parece uma perda de tempo brutal pensares em quem tanto te irrita, tanto te mente, tanto te desilude, tanto te humilha, tanto te despreza. Ou até irrita, mente, desilude, humilha e despreza qualquer pessoa e tu sentes isso como injusto. Como é possível ser obra de arte de Deus?? Pensa no seu rosto com toda a força. E repete para ti próprio: Esta pessoa é obra de arte de Deus. Repete até acreditares. Repete pelo menos até conseguires ponderá-lo como uma possível verdade. Repete até encontrares uma razão. Não te peço mais, apenas uma pequenina razão, um pequeno e fugaz momento em que até conseguiste deslumbrar uma ponta de bondade e amor nela. Tenho tentado fazer o mesmo e continuarei a tentar. Porque acredito que isso me trará liberdade para ser o que Deus me destinou a ser: irmã de todos em Deus. 
Implica imensas voltas na roda, voltas de 180º na nossa vida. Implica largas pinceladas de esperança, de não esperar que o Bem venha da forma como previmos mas que tudo haverá de fazer sentido num futuro que ainda nos é desconhecido: a grande certeza é que Deus lá estará connosco. Implica grandes canções de perdão, de sobrepor a nossa música a tudo, de (nos) perdoarmos tudo o que não foi Amor. Implica que TODOS são dignos para Deus. Que todos são criados no Amor e para o Amor. Que, apesar de tudo, todos são capazes de Deus porque todos são obras de arte Sua. Não só eu, mas os outros também. Não só os outros, mas eu também.

Somos arte, somos beleza, somos algo sublime, somos manifestação dos sentimentos, experiências e personalidade do nosso Criador, dignos de ser contemplados e admirados… Oxalá entendamos aos pouquinhos a dimensão de tudo isto! 
Ana Emanuel Nunes

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