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ENTRE TANTOS - Tão família

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A minha família vive em Coimbra, longe da casa dos meus avós, muito longe da casa dos meus tios e primos. Sempre lamentei muito, quando era criança, não poder ir brincar com os meus primos às escondidas quando me apetecia, o que fazia com que aproveitasse essas ocasiões à séria quando nos reuníamos pelo Natal, pela Páscoa e pelos nossos aniversários em família alargada. Também sentia alguma inveja dos meus amigos, quando os seus avós iam diariamente buscá-los à escola cheios de tempo, carinho e guloseimas (às vezes lá calhava os meus avós estarem por Coimbra por causa de alguma consulta e era maravilhoso quando me davam esse gosto e os via dentro do carro à minha espera!). Esta distância física significava também que, nos fins de semana, quando os meus pais tinham algumas atividades, muitas ligadas à Igreja, não houvesse propriamente ninguém à mão que pudesse tomar conta de mim e dos meus irmãos. Então lá íamos nós com eles para todo o lado, na maioria dos casos sem que fosse aborrecim

ENTRE TANTOS - Sou também, Etty, uma ajoelhadora em treino

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Comecei esta quarentena com uma montanha de livros por ler. A verdade é que os vou comprando, ou nas oportunidades imperdíveis da feira da ladra, no OLX e sim, volta e meia, quando não encontro usados, compro novos. Quando era pequenina, era utilizadora assídua da biblioteca mas, nos tempos que correm, torna-se muito, muito difícil, infelizmente, cumprir com as datas de devolução.  Já ouvira falar do Diário de Etty Hillesum. Pouco mais sabia que era uma jovem adulta judia que vivera em pleno Holocausto e que, no meio daquele terror, conseguira morrer firme na fé em Deus e na beleza que era a vida. Fascinou-me logo: se eu tinha adorado Anne Frank, quando era adolescente, tinha tudo para também adorar a Etty na flor da sua juventude como agora me encontro também. Comprei o livro no verão e acabei por o começar a ler finalmente na semana santa. Não nego que lê-lo apenas recentemente me fez todo o sentido por isso ainda bem que esperei. Há razões que a razão desconhece, mas há sin

ENTRE TANTOS - Maria Madalena

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Todas as Páscoas são para mim especiais, desde pequenina quando corria as casas dos vizinhos dos meus avós para beijar a cruz o máximo de vezes, quando brincava com a vela na vigília pascal (ups, ainda brinco...), quando queria levar com a água benta bem em cima, quando montava o oratório em plena mesinha da sala de estar com a minha Bíblia, o meu terço, a minha coleção de livros com as histórias de Jesus que os meus padrinhos me deram, uma cruz, uma vela e os naprons que a minha avó me fazia para tudo embelezar. À medida que fui crescendo, fui indo além desses sinais físicos e fui começando a prestar mais atenção aos pormenores desta história que mudou toda a História. Nestes últimos anos, tem sido bastante engraçado como naturalmente me tenho detido a viver a Páscoa debruçada e imersa numa personagem do evangelho. Surgem as dúvidas, as questões: "porque agiu daquela maneira?", "porque lhe terá acontecido isso?" entre muitas mais. Encontro algum entendimento p

ENTRE TANTOS - "Então, novidades?"

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Qualquer boa conversa, sobretudo com pessoas com quem já não falamos há muito tempo, seja pessoalmente ou não, começa com este típico diálogo: 1: Olá! Tudo bem? 2: Sim e tu? Como estás? 1: Também estou bem! Então, novidades? Quem se revê? Muitos, bem sei! Queremos sempre saber das novidades primeiro para dar tema às nossas conversas e então, depois disso, lá começamos a divagar, a divagar e a divagar em conversas sem fim! No outro dia, ao falar por vídeo chamada com uma amiga, apercebemo-nos que, visto estarmos as duas a cumprir o nosso dever de isolamento social, as novidades iam começar a escassear para alimentar a nossa amena cavaqueira… Aquilo meio que nos assustou, confesso, mas rapidamente (e como sempre) levámos a coisa para a brincadeira e a chamada continuou no mesmo tom de cumplicidade ridícula que nos é tão própria. Mas deixou-me a pensar. Basta olhar para os telejornais. As notícias são inteiramente dedicadas à Covid-19 porque sim, é uma pandemia à escal

ENTRE TANTOS - Sem palavras

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Honestamente, escrever esta crónica foi mais uma daquelas vezes que andei desesperada durante a semana à procura de um tema. Normalmente, tento planear mas a minha cabeça não vê nada até, no último momento, surgir a inspiração divina que tanto precisava. E aí sim, embrenhar-me completamente até conseguir o texto! A minha necessidade de ter palavras deixa-me sem palavras, literalmente. Tal como quando apanhamos boleia com alguém que não conhecemos muito bem e vamos ali os dois, um silêncio constrangedor gelado que precisa de ser quebrado…  E pronto, surgiu a ideia: falar do que me deixa sem palavras. “Sem palavras” é um tema sobre o qual dá para correr muita tinta. Mas vou tentar ser breve pois acredito que as palavras a mais também acabam por distrair do que é essencial. Apercebi-me que o que me deixa sem palavras é aquilo que sinto com muita intensidade, quando sinto os pólos negativos e positivos da vida no seu extremo. Fico sem palavras quando olho a injustiça e a miséria do o

ENTRE TANTOS - 19.03: Dia do "Vai"

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Uma pessoa fica em casa durante tanto tempo sem sair e perde a noção do tempo. Hoje é dia 19 de março, dia do pai! Claro que já não estamos na primária, onde duas semanas antes somos avisados de que o dia se avizinha e que é preciso meter mãos à obra para fazer a lembrança: desde a invariável gravata num lata decorada para meter lápis e canetas até ao mais arrojado jogo de damas. Talvez este ano possa ser este texto a minha lembrança!  Detive-me então a pensar no que de mais bonito o meu pai já me disse. Temos momentos muito especiais, desde a nossa forma tão peculiar de dar beijos até aos momentos de perdão depois das nossas discussões. Mas lembro-me perfeitamente do dia em que lhe perguntei o que ele acharia se eu fosse em missão e da resposta ter sido: "Vai." O meu pai tem essa mania, de me desarmar perante perguntas tão complexas com respostas tão simples. Só isto: vai. É sempre essa resposta quando se trata de ir atrás dos meus sonhos e de levar avante as minhas

ENTRE TANTOS - Papá Francisco

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Querido Papá Francisco: Há precisamente 7 anos, conheci-te naquela varanda do Vaticano, depois de ter saído fumo branco, anunciando que tínhamos um novo Papa! Nunca tinha ouvido falar de ti. E surgiste sereno, pedindo que rezassem pelo Papa Bento XVI, pedindo que rezassem por ti. E achei deliciosa, desde logo, a tua humildade. De alguém que foram buscar ao fim do mundo para servir a Igreja de todo o mundo. A verdade é que ninguém te ficou indiferente. Provavelmente não foste a escolha mais óbvia, mas nós já sabemos que Deus tem o seu jeito muito próprio de fazer as coisas acontecer. Tudo se surpreendeu por abdicares de muitos dos "privilégios" papais, porque quereres manter ao máximo a simplicidade do teu estilo de vida, por seres autor de gestos libertadores cheios de significado. Nada mais fazes do que viver a tua missão de Francisco, esse nome pioneiro que escolheste para o teu pontificado: queres que a pobreza de S. Francisco de Assis e a atenção dada aos mais po

ENTRE TANTOS - Diários

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A maior parte das pessoas, acho que o posso afirmar, já tentou algum dia escrever um diário: não necessariamente um daqueles de escrever todos, todos os dias mas algum caderno, ou até gravador, que nos ouça quando precisamos.  Eu, quando era pequenina, era o que mais queria. Manter um diário, durante um ano, todos os dias, regularmente. Um diário ultrassecreto, com cadeado para fugir às cusquices da minha família (eu, que era a maior cusca!), com páginas perfumadas. Começava impreterivelmente no dia 1 de janeiro, à espera que um novo ano significasse uma maior motivação. Tenho dois ou três começados sempre com a descrição desse dia 1, o aniversário da minha irmã, em que os dias eram sempre de festa e de tardes passadas à lareira em família. Nunca durou mais que uns dias, tal a exigência que me colocava. E se durava mais do que um mês era porque, nos dias em que não escrevia, fazia questão de me desculpar nos dias seguintes: "Desculpa, querido diário, hoje foi um dia long

ENTRE TANTOS - 29.02.20

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O dia 29 de fevereiro sempre foi para mim um dia mágico. Quando era pequena, descobri que o pai de um amigo da minha turma fazia anos nesse dia e, tal era a confusão, que julgava que ele tinha todo o direito de andar a espalhar por aí que em vez dos seus 36 anos, tinha apenas 9 :p Para além disso, deveria celebrar o aniversário às 12h00 em ponto do dia 28, exatamente a meio caminho entre o dia 28 de fevereiro e 1 de março, como se fosse naquele momento que se abria o portal secreto para o dia 29. Cedo me apercebi que isto era realmente coisa de criança, mas tive outra fase, não muito depois para ser sincera, em que me lembro de querer muito que me calhasse ser eu a escrever a data no quadro nas aulas quando chegasse este dia, queria ter o privilégio de escrever esta data especial que só dali a 4 anos voltaria a ter a oportunidade de escrever. Queria tanto escrevê-la que me lembro perfeitamente que esse dia calhou à Beatriz Marinheiro e eu fiquei bem invejosa!  Fo

ENTRE TANTOS - Plantas de emergência

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Todos passamos na vida por momentos em que simplesmente gostaríamos de fugir a sete a pés para bem longe deles. Porque a vergonha é tamanha perante aquilo que fizemos, a tristeza é demais para o barco se aguentar a flutuar ou somos confrontados com provas gigantescas diante da nossa (aparente) pequenez. No outro dia, fiquei fascinada pela planta de emergência da Casa da Música (Porto). De facto, esse edifício é de uma imponência, irreverência e particularidade arquitetónica sem igual. Ali, na sua planta, revelava-se contudo com simplicidade, com tudo o que lhe era fundamental, deixando a nu a sua essência. Comecei desde logo a magicar que talvez o que nos faça falta seja estarmos completamente cientes da nossa própria planta de emergência para não fugirmos em desespero mas com a serenidade desejada para enfrentar as calamidades da vida sem vãos alarmismos. Identificar a nossa própria essência, o nosso conjunto de forças e fragilidades, de forças frágeis e fragilidades forte