ENTRE TANTOS - Papá Francisco
Querido Papá Francisco:
Há precisamente 7 anos, conheci-te naquela varanda do Vaticano, depois de ter saído fumo branco, anunciando que tínhamos um novo Papa! Nunca tinha ouvido falar de ti. E surgiste sereno, pedindo que rezassem pelo Papa Bento XVI, pedindo que rezassem por ti. E achei deliciosa, desde logo, a tua humildade. De alguém que foram buscar ao fim do mundo para servir a Igreja de todo o mundo.
A verdade é que ninguém te ficou indiferente. Provavelmente não foste a escolha mais óbvia, mas nós já sabemos que Deus tem o seu jeito muito próprio de fazer as coisas acontecer. Tudo se surpreendeu por abdicares de muitos dos "privilégios" papais, porque quereres manter ao máximo a simplicidade do teu estilo de vida, por seres autor de gestos libertadores cheios de significado. Nada mais fazes do que viver a tua missão de Francisco, esse nome pioneiro que escolheste para o teu pontificado: queres que a pobreza de S. Francisco de Assis e a atenção dada aos mais pobres te movam sempre, com alegria e gratidão, cuidando da criação.
Por isso nos convidas a ir contigo para as periferias, a olhar em volta e a procurar aqueles que estão longe de nós, aqueles que são diferentes de nós. Convida-nos a não ter medo de ser missionários, de revolucionar a nossa forma de estar e de ser Igreja para conseguir acolher a todos com misericórdia: a mesma misericórdia que Deus usou contigo ao te eleger, a mesma misericórdia com que Deus tinha olhado e por isso elegido Mateus, o teu lema do pontificado. Essa misericórdia que é bem mais forte do que qualquer politicamente correto, que implica autenticidade, assertividade e uma certa dose de audácia. Ligas pessoalmente a tantos, visitas hospitais e prisões, beijas o repugnante, pedes desculpa e a todos levas uma mensagem de esperança e de amor. Convidas-nos a fazer realmente dessas periferias o nosso centro, a sairmos do nosso egoísmo individual e coletivo e a encontrar o sentido da nossa vida na partilha com o outro.
Fartas-te de viajar, não pelo prazer da viagem, não pela foto no Instagram, mas para estares realmente ao lado dos mais frágeis, dos migrantes, dos refugiados, dos indígenas, para junto de quem tem poder poderes lutar por um mundo mais justo e fraterno que é o projeto de Jesus para a humanidade. Viajas para celebrares connosco a vida, para celebrar connosco a fé, para fazeres festa connosco.
Já tive a graça de estar contigo em alguns momentos, não só através da TV mas fisicamente. Dás-me sempre a lição de que não preciso de estar na frente para conseguir o melhor lugar para te ver. Uma dessas vezes foi em Roma, na celebração dos 800 anos da Ordem Dominicana, em que presidiste à celebração, onde todos esperavam que entrasses pelo corredor central e eu apenas tinha um lugar do lado oposto, junto à parede e portas para outros espaços da igreja. Foi justamente por aí que entraste, por uma dessas portas, contrariando tudo. Estiveste tão perto de mim! "Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros". Noutra ocasião, em Fátima pelo centenário das aparições, cá fiquei de novo mais em cima, junto à Basílica nova, e tu passaste de novo, transportando esse sorriso, olhando-me olhos nos olhos, acenando cheio de alegria. E eu rejubilei!
E, no Panamá, na Jornada Mundial da Juventude, lá estavas tu, disponível para os jovens, para depois do Sínodo a nós dedicado nos dizeres que somos o agora de Deus, que a Igreja precisa da nossa novidade, do nosso entusiasmo, do nosso conhecimento, que tu precisas da nossa novidade, do nosso entusiasmo, do nosso conhecimento. E fazes-nos sentir capaz do impossível, porque nos lembras constantemente que Deus nos ama, que Cristo vive em nós e que o Espírito inspira as nossas palavras e ações.
Já são sete anos a cuidares de nós. És o nosso pastor, o nosso Papá, alguém cujas palavras me confortam, me motivam, me repreendem, me fazem crescer, me desafiam. Alguém que me dá um exemplo de coerência e um testemunho de caridade. Alguém que vive com o ardor de santidade, de saber que precisa da força de Deus para fazer cumprir a Sua vontade.
Ser Papá desta gente toda não é tarefa fácil. Mas continuarei a rezar por ti.
Gosto muito de ti.
Um abraço muito forte,
Ana Emanuel
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