ENTRE TANTOS - Plantas de emergência

Todos passamos na vida por momentos em que simplesmente gostaríamos de fugir a sete a pés para bem longe deles. Porque a vergonha é tamanha perante aquilo que fizemos, a tristeza é demais para o barco se aguentar a flutuar ou somos confrontados com provas gigantescas diante da nossa (aparente) pequenez.
No outro dia, fiquei fascinada pela planta de emergência da Casa da Música (Porto). De facto, esse edifício é de uma imponência, irreverência e particularidade arquitetónica sem igual. Ali, na sua planta, revelava-se contudo com simplicidade, com tudo o que lhe era fundamental, deixando a nu a sua essência.




Comecei desde logo a magicar que talvez o que nos faça falta seja estarmos completamente cientes da nossa própria planta de emergência para não fugirmos em desespero mas com a serenidade desejada para enfrentar as calamidades da vida sem vãos alarmismos. Identificar a nossa própria essência, o nosso conjunto de forças e fragilidades, de forças frágeis e fragilidades fortes que nos compõem e estruturam. Estudar previamente a nossa planta, as nossas portas de emergência e as rotas para uma saída em segurança. Saber onde estão e quem são os nossos extintores, as nossas caixas de primeiros socorros, os nossos botões de alarme, aqueles a quem podemos sempre recorrer e que estão lá prontos a entrar em ação, incondicionalmente, para nos proteger. Perceber qual o ponto de encontro onde finalmente poderemos respirar com um pouco mais de alívio, onde encontrarei o cuidado que necessito, os locais que me fazem bem e onde me encontro, na minha plenitude, sem julgamentos externos e sobretudo pessoais.
Por isso, precisamos de simulacros, aqueles que, nos tempos de escola, nunca nos apanhavam de surpresa e que era somente um bom pretexto para nos esquivarmos a meia hora de aula de ciências. Precisamos de os levar a sério pois quando o desastre surgir já estaremos mais do que preparados para aplicar todas as recomendações e medidas, seguindo pelos caminhos que acabamos por decorar, evitando as confusões, os atropelos, trilhando-os antes com paciência e uma boa dose de autocontrolo. Não esquecendo, porém, uma coisa fundamental: Às vezes permanecer debaixo de uma mesa é o mais sensato e prudente :)
A terra pode(-nos) abalar mas há vigas no (nosso) edifício que nos podem abrigar. Pode haver fogo numa divisão que (nos) enche do fumo mais negro mas é maior o fumo que o fogo. O som de alarme vai soar ensurdecedor mas juntar os nossos gritos só vai criar ainda mais pânico: os nossos gestos e palavras assertivas, aprendidas pelo tempo, têm que se sobrepor por nós e pelos que nos rodeiam.
Ainda que ruamos por completo e que saiamos completamente destruídos e desfeitos, haverá sempre a esperança de nos reconstruirmos, mais robustos que nunca, em que poderemos até reinventarmo-nos. Se a nossa casa tiver os seus alicerces bem profundos na rocha, venham as intempéries que vierem que estaremos firmes: firmes no Amor, permanecendo para as gerações vindouras como Seu património vivo e belo por toda a eternidade.
Ana Emanuel Nunes


"Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; mas não caiu, porque estava fundada sobre a rocha." (Mt 7, 24-25)



Comentários

  1. Obrigada por mais uma bela mensagem. Vou continuar a fazer reflexao sobre o assunto pois e mesmo para pensar com profundidade. E bom nos pararmos e refetir nesta coisas. para nos ajudar.em nossas vidas. Obrigada

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  2. Nunca é demais estarmos preparados, para aquilo que gostariamos que nunca aconteça.

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