As Máscaras

Máscaras que se põem, que se tiram... Estamos no Carnaval... E apetece-me escrever sobre isso... Ao colocar o título veio-me à cabeça "A máscara" do realizador, Charles Russell, de certeza que conhecem o filme.   Saiu em 1994, no século passado, mas recordo de o entender como uma caricaturização social, com a qual me identifiquei e me identifico ainda hoje. É um filme divertido com uma história banal, de um funcionãrio tímido que ao colocar-se atrás da máscara realiza inúmeras proezas, sem medos, arriscando a vida, ignorando a lei e todas as convenções e procura realizar-se nas 3 áreas: poder, dinheiro e amor!
Rita Ribeiro de Castro 
O mesmo efeito acontece com a multidão, e o contexto biblíco é muito rico nisso, aquilo que individualmente seria difícil fazer, escondidos na multidão é mais fácil "sair do armário" e este fenómeno social repete-se ao longo dos séculos em diferentes áreas geográficas, a agressividade enconde-se no tumulto das gentes. Por isso Jesus faz o contrário, retira-se e retira da multidão, chama pelo nome: "Zaqueu desce depressa, que quero ficar em tua casa.."; Ou "Maria" depois de ressuscitado, quando é confundido com o jadineiro; ou "Tu és Pedro/ Pedra." Ser olhado por Jesus é perceber-se amado... É arrancar a máscara e tanta maquiagem que usamos no dia a dia...

Um jovem há muitos anos, participou com o CUFC numa peregrinação a Santiago, declarou-se ateu... Disse os chavões do costume, a riqueza da Igreja, o Galileu... Os padres e as freiras... E aqui o assunto tocava-me mais... Pedi exemplos... Pedi que concretizasse naquele padre e nesta freira que estavam com ele... E começou por nos retirar dessa imensidão de crimes, que a sua imaginação, com devidas ajudas da sociedade criou... Fomos conversando, ouvindo, respondendo... Começou por se sentir incomodado nas celebrações e foram aparecendo sinais de mudança. Quando regressámos disse-me, agora eu sei que Deus existe... Que Jesus me ama... Mas quero esquecer e fugir.. Porque não sei o que Jesus me pode pedir... E eu não quero ser desinstalado! E nunca mais o vi... - Meu Deus que ato de fé! Mas que pena... o medo, a desconfiança, impedem de avançar.. E eu rezo. E acreditamos que a semente terá a sua hora... Porque Jesus nos ama de mais para desistir.
No Carnaval são as máscaras, as festas e confesso que, agora já não tenho pachorra... Mas gostava muito de me mascarar, o carnaval trapalhão, simples, divertido.. Sem samba, maquiagem, brilhos... Mas alegre, com a partida brincalhona e inofensiva... Onde a timidez não mandava... Depois na Guarda, realizei-me com as miúdas... Deixá-las escolher, sonhar, criar... Mais umas lantejolas, um rabo no Mickey, mesmo cozido à uma da manhã... E depois pintar aqueles rostinhos lindos, pelo menos nesses dias o pequeno almoço era engolido com rapidez...  

 Mas hoje há uma ânsia de viver, experimentar e claro publicar a prova... Vemos uma necessidade tão grande de controlo: do peso, da aparência, da morte... E vejo tão pouca liberdade: o grupo de amigos, "se eles forem..." Ai gosto tanto desta cor, bem mas não se usa..."; "Ai quero experimentar, os meus amigos já foram..." - E procura-se a multidão... a despersonalização... Deixamos que outros giram a nossa vida ou escolham um parceiro, tudo numa lógica material, "se não sou útil, se não sinto vontade de viver... não vale a pena..." Contudo a nível social parece que só a fé nos retira a liberdade. 
E à noite a tirar os brilhos e procurar controlar o desequilíbrio da festa... Nem notam que a máscara  está colada, como na personagem do filme. O vestir outra cara... para muita gente tornou-se o quotidiano! E vejo o medo do silêncio do encontro com Cristo, de ir contra a corrente em vez de "enovelado" na multidão... E fica a euforia do alcool, porque estas personagens parecem incapazes de se divertir sem ajudas, sem exageros... E ficam os olhos baços e tristes, apesar da gargalhada estridente.
O "Carnaval", o dizer adeus às carnes ou adoptar alguma renuncia no bem viver a Quaresma, neste amor a Deus, que se concretiza no bem do outro, na partilha... Faz sentido para alguns... Para aqueles que usam uma máscara, mas que sabem fazer escolhas... Que bricam, divertem-se, mas tem tempo para se conhecer... para a Quaresma!
 Bom Carnaval, porque cada dia é dom de Deus!!!
Rita Ribeiro de Castro 
Ir. Flávia Lourenço, op







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