Precisamos de Sol

Olá Malta! 

Desde já espero que estejam bem e que esteja tudo bem convosco e com a vossa família. Aproveito também para agradecer o convite em estar convosco esta noite e por partilhar a minha experiência do primeiro Dominismissio em que participei, que por acaso foi no Algarve,em Algoz, na Guia e depois em Portimão.

Começando pelo início, já não sei ao certo quem me convidou para participar neste campo de trabalho, mas sei que estávamos em julho de 2014, a regressar de uma peregrinação a Santiago de Compostela. Entre a Rute e a Irmã Flávia uma das duas convidou e a outra, ajudou à festa e a “meter lenha ao lume”, como eu costumo dizer :) e a desafiar em participar. É claro que iria ter de ver a agenda, pois sou música e serviços da banda em agosto (tenho uma banda filarmónica fixa e depois vou onde me pedirem) é o “prato do dia”: são as romarias, as festas de emigrantes….teria também de falar com os pais - há quem mande em casa :) mas daria uma resposta.

A agenda nessas datas estava livre, os pais deixaram…..Algarve, aqui vou eu. Atenção, era a primeira vez que eu estava a contactar com as Irmãs Dominicanas (e no caso através da Irmã Flávia) tinha sido na Peregrinação, assim como as outras pessoas que eu conheci na peregrinação a Santiago e que iam participar no dominismissio, que eram: a Rute, a Bruna e a Marta (a Tita), que na altura era postulante, de resto, eu não conhecia mesmo mais ninguém, mas ainda assim, Algarve, aqui vou eu. Basicamente foi desfazer a mochila de Santiago e refazer para o campo de trabalho.

Então, o Dominismissio começou com a oração de envio na casa das Irmãs em Aveiro, onde as irmãs nas suas preces diárias iriam rezar para que tudo corresse bem - coisa que na altura eu não percebi bem, o ficar a rezar por alguém, mas pronto (se alguém se sentir assim, quero acreditar que mais tarde perceberá o que é isto de ficar a/rezar por alguém) - dormimos em Aveiro e no dia seguinte….viagens de comboio. No comboio deu para conhecer o pessoal que ia participar, deu para dormir, tirar as típicas fotos a quem dorme e tentar não ser apanhado a fazer caras…...caras lindas, como todos conhecemos e….eis que chegamos ao Algarve. Sabíamos que sempre que dissemos, por exemplo “Irmã, preciso….” a irmã, ou alguém, iria responder “precisas de sol, precisas de sol”. Assim iria ser. Isto porquê: o senhor padre que nos ia acolher em Algoz e na Guia (acho que era o mesmo padre nestas duas localidades, e eu já não me lembro do nome do senhor), mas era um senhor padre já de idade e muito prestável. O senhor era mesmo um espetáculo, e se disséssemos  “preciso de….” o senhor tentava arranjar, para nos sentirmos bem e para que nada nos faltasse, pois estávamos em missão. Tive a infelicidade de dizer, e de este padre estar por perto, “ó irmã, preciso de…..” e tenho o senhor padre à minha frente! O que é que me passa pela cabeça: “bolas Natália, nunca precisaste de nada e da única vez que precisas tens o homem à frente!!! Bonito serviço!!!” Enquanto eu penso isto o que é que o senhor padre diz???? Exatamente: “O que é que precisa menina?” Natália pensa: “Fez a pergunta errada!” (eu é que fui descuidada, mas pronto!) e Natália responde, com um sorriso na cara: “de sol senhor padre, eu preciso de sol.” O senhor ficou espantado a olhar para mim, deve ter pensado: “o sol fritou-lhe o cérebro, só pode” e sem querer fui salva pela freirinha que deu uma gargalhada, coitada, que também foi apanhada desprevenida :D :D :D

            Depois de eu ter precisado de sol - que até era o tema de hoje :) - surge a vocação, que também faz parte do tema :) Foi algo em que até esta data não tinha pensado com seriedade. Neste campo de trabalho eu tinha terminado a licenciatura em música - trompa, há pouco não disse - e ia começar com mestrado em ensino de música, também em Aveiro. Por isso a minha vocação estava traçada: seria procurar trabalho (pois as horas que temos no mestrado, pelo menos para mim, era mais fácil conciliar trabalho e estudos), fazer o mestrado, continuar a dar aulas e arranjar mais horas, e…..sei lá, talvez casar (é normal, acho eu, fazermos este caminho). Pois….mas cada caminho é único.... Durante a peregrinação a Santiago, pela minha forma de ser entre outras coisas, a Marta (a Tita) e o João Pedro iam pegando comigo dizendo que eu seria a próxima a ir para o convento :) a gente ria, mas o que é certo atiraram o barro à parede e eu fui pensando no assunto. No campo de trabalho - alguns de vocês já sabem como funciona, mas é fazermos voluntariado, é estarmos onde é preciso, e este estar, por vezes, é só mesmo estar sem esperar uma resposta. E aqui, recordo o Pedro, que me marcou muito. O Pedro (acho que não lhe troquei o nome) era um rapaz novo e que estava num lar numa valência de cuidados continuados, e nós fomos a essa valência. Quando passamos pelo quarto do Pedro, disseram-nos que ele estava a descansar e nós seguimos para visitar outros utentes. Como os outros colegas, eu segui, mas não demorou muito tempo e eu voltei ao quarto do Luís e ele já estava acordado. Aqui ia a Natália para uma boa conversa. A conversa foi um fiasco, bastou a primeira pergunta - Olá, tudo bem? - e…..na minha cabeça: “Alguém me pode ajudar??? Help??? Olá….está aí alguém???” Oh pá, nas que me meti!!! Então, o Pedro tinha tido um acidente de moto, e saiu desse acidente com uns pequenos arranhões, só ficou foi tetraplégico e sem fala. Pois, esta parte de ter ficado sem fala não nos tinham dito quando passamos pelo quarto dele, mas como eu voltei atrás, depois percebi isso. Por isso, aqui, o estar com o Pedro não foi para conversar, mas foi estar e ouvir os olhos a falar. E sim, os olhos falam, pois o olhar do Pedro foi dos mais límpidos, brilhantes e bonitos que já vi. Depois de ter estado um pouco com ele apareceu a irmã Flávia (deve ter sentido a minha falta :D ) e uma diretora, ou assistente, já nem sei, mas, eu já estava ali e….isto também é missão, o estar. Se calhar o Luís precisava de sol e apareci eu, na ausência de melhor…. :D E se calhar, naquele dia, sem querer fomos o sol um do outro, pois para ele era uma cara nova/diferente, para mim….uma h istória e testemunho de vida enorme.


Mas voltando à vocação, neste campo de trabalho a “Tita” continuou a “massacrar-me” de “olha que tu vais pró convento” e eu, chegou-se a uma certa altura em que deve ter sido “está bem Marta, está bem, amanhã a gente vê isso.” O que é certo é que depois do campo de trabalho, voltando a Aveiro e valorizando mais o que me rodeava, comecei a frequentar mais a casa das Irmãs em Aveiro. A par do mestrado dava aulas, e tinha quase horário completo - o que a nível de tempo não sobra muito, mas ainda assim consegui fazer alguns retiros com o VTS (Voluntariado Teresa de Saldanha), um outro nos jesuítas (que me fez mesmo ir às entranhas) e um outro com as Irmãs da Aliança de Santa Maria. Este último foi o bater com a cabeça na parede e perceber que se calhar a vocação religiosa me estava a bater à porta. A partir daqui as coisas mudaram e foi começar a fazer um  caminho mais sério, mais consciente com as Irmãs Dominicanas. Será que a minha vocação seria/passaria pela vida religiosa? De 2014, saltamos para julho de 2016, depois de um campeonato europeu ganho à França e de uma tese defendida com sucesso :D e… saltemos para setembro….eh pá, não é que fui mesmo para o convento? Não é que a “Tita” e o João Pedro tinha razão? Sim, estive a viver no convento, com as irmãs em Aveiro, porque acreditava e sentia que Deus me chamava a ir por esse caminho. Foi um ano…..bem…..foi um ano de muito conhecimento pessoal, de dar nome quer ao que sentia quer à pessoa que eu tinha sido e era naquele momento, e também foi um ano em que de certo modo estava na minha praia: porque continuava a dar aulas e ajudava a preparar e a realizar as atividades a nível pastoral e ia estando com as Irmãs da casa, que isso também me fez crescer muito. E aquilo que eu já disse e vou dizendo é que todos deveriam de passar quer por conventos quer por seminários (no sentido de conventos para raparigas e seminários para rapazes), para se conhecerem melhor e darem os nomes certos àquilo que somos, porque por vezes não temos coragem de aceitar no momento o que somos. Se calhar, agora mudo um pouco este discurso, acho que não precisamos todos de passar pelos conventos e pelos seminários, mas se acham que algo em vós fala mais, eh pá, procurem a resposta e se sentirem/perceberem que “chegaram a casa”, pronto, é esse o vosso lugar, é esse o lugar onde devem ficar. E agora perguntam-me: e tu, o que fizeste? Eu em determinado momento percebi que o meu caminho não era por ali, não era ali no convento. Não digo que não o venha a ser, mas não era naquele momento e ainda não é neste. Acredito que tenho uma vocação, como todos temos, e na qual ando à procura. Mas como tudo na vida e como a minha mãe diz muitas vezes “não temos só rosas, os espinhos estão atrás”, mas também não temos só tempestades, as alegrias também surgem e também devem ser recordadas.

Bodas de prata a Ir. Isabel Duque

Por isso, se procuram algo mais para além do trabalho, eh pá, partilhem, falem com alguém que vos quer bem e que está para vos ouvir, em que podem ser os pais, os amigos, mas também pode ser uma Irmã ou um padre. E sim, tenho padres e freiras na minha lista de amigos pessoais :D E atenção, nem sempre é fácil falar com as pessoas que nos são mais queridas e próximas. Por vezes é mais fácil falar com um “estranho” do que aqueles com que nos cruzamos todos os dias.

E quando me perguntam: “E agora? Qual é que achas que é a tua vocação neste momento?” Bem, não é de todo uma resposta fácil de dar, e como disse, ainda estou à procura, mas neste momento sinto-me bem e feliz com a vida que tenho e com as pessoas que me rodeiam e vou conhecendo.

Mas, não se esqueçam: se têm dúvidas, falem. Sem medos, pois antes de vós já alguém falou (sentiu algo parecido com o que sentes neste momento/teve dúvidas) e depois de vós virá sempre alguém. Não sois um “caso único/exclusivo” :)

Beijinhos e sejam felizes :)

Natália Faria  

Ps: Todos os nomes utilizados são ficticios 

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