Semear...

 Mt 13, 1-23 - «Saiu o semeador a semear»  

Para a maioria dos cristão ouvir esta frase ou o início da parábola já nos inquieta a atenção, pois já todos sabemos a história... Que o próprio Jesus explica e que a maioria dos sacerdotes volta a explicar dizendo o mesmo por outras palavras mas descontextualiza, limita-se a repetir o texto. Geralmente termina a homilia com a típica pergunta que terra sou eu? 
Está o tema tão gasto que não faz sentido determo-nos nele? Ou será este tema tão simples e importante que por isso a nossa Imaginação acelera para evitar que ecoe em nós, que nos possa desinstalar?  
Cristalizar esta parábola na realidade campreste e pensar se acolhemos ou não a palavra não é assim tão difícil. Até porque muitas vezes limitamos o acolher da palavra a ir à missa,  ou a Fátima, ou a rezar... Mas temos mais dificuldade em aceitar este Jesus que morre, que dá a vida... Preferimos as imagens douradas e bonitinhas... E recusamos a realidade, este Cristo que se esconde no outro, no outro de quem fugimos, que é mal educado, que não reconhece as nossas ações... Porque aceitar a metamorfose da semente, implica a morte, a mudança e, isso a mim, assusta-me!

Partilhando a ideia da morte da semente, nas palavras do António Couto in https://mesadepalavras.wordpress.com/ :

"Só caindo à terra, como a semente, dará fruto (cf. João 12,24). Desiludam-se os que pensam e dizem que Jesus fala em parábolas para que todos possam compreender. Na verdade, segundo o próprio dizer de Jesus, Ele fala em parábolas para que, de acordo com a lição de Isaías acima transcrita, «vejam sem ver e oiçam sem ouvir» (Mateus 13,13). É, na verdade, o que acontece. Os próprios discípulos estão sempre a pedir explicações (cf. Mateus 13,36; Marcos 4,10). E só a eles Jesus explica tudo devagar (cf. Marcos 4,34).

Na verdade, a parábola que é Jesus passa despercebida às multidões, e até os seus discípulos saem de cena desconcertados (cf. Marcos 14,50). Poucos chegarão a ver e a compreender que Jesus é a semente que cai à terra e morre para viver e fazer viver. Poucos chegarão a ver e a compreender que Jesus é o «toco seco», que é uma semente santa, vinda de Deus e por Deus semeada. E que dará muito fruto.

"Se o grão de trigo, que cai na terra,

Não morrer de alegria,

Fica sozinho e triste,

E morre de desgosto

E solidão

E fogo posto.

Mas se morrer de alegria,

Dará muito fruto,

E verá longos dias,

Cheios de alegrias

E novas melodias.

                         A nossa mesa encher-se-á de pão,

                         E virão

                        Os pardais e as cotovias

                        Partilhar a nossa refeição.

 Como é bom, como é belo,

Viverem unidos os irmãos,

Sentados à beira da torrente

Da paz e da alegria,

À beira da nascente

De onde nasce o dia.

                         Abençoa, Senhor, o nosso coração,

                        Estende, com a tua mão,

                        Uma toalha branca à nossa mesa,

                        E senta-te connosco,

                        À volta da tua lareira sempre acesa.

 Como é bom estarmos aqui, Senhor,

Mesmo sem tendas levantadas,

Basta-nos o teu amor

E as nossas mãos nas tuas entrançadas."

Ir. Flávia Lourenço, op

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