Divagações Espirituais: O toque das lágrimas

Ressurreição do filho de uma viúva - ἤψατο (Lc 7, 14)  

Jesus cruza no caminho com um cortejo fúnebre. A cena é de grande delicadeza! Jesus vê a mãe do defunto a chorar e se comove, tem compaixão. Se aproxima do esquife e o toca. Ninguém correu para Ele, para fazer um pedido por palavras ou por gesto como a que tocou a orla do Seu manto. Ninguém disse que acreditavam no poder de Jesus. Jesus, embora  acompanhado por uma multidão, parece como que um estranho para esta cidade de Naim, um “forasteiro”. 

Segundo a Lei, Jesus nem podia tocar no caixão. A Lei considerava impuro quem tocasse no esquife. Jesus toca no esquife e os que carregavam o esquife pararam. Consciente do Seu poder e sem receios da Lei que considerava uma impureza tocar num caixão, deu ao jovem a ordem para se levantar, para se ressuscitar. O ressuscita em Seu Nome . “Jovem, Eu te ordeno, levanta-te”. Coisa que só Deus pode fazer. 

Santo Agostinho responde aos que criticam a ação de Jesus dizendo que ao curar está a ir contra as leis da natureza, dizendo: Jesus faz isto como sinal, porque os Homens já não se admiram mais perante o milagre da vida ao ver que vem ao mundo um ser humano que nuca existiu nem mais voltará a existir no mundo um igual, então ressuscita os mortos como sinal, para despertar a alma e reconhecer seu Deus.  

O gesto espontâneo de Jesus comovido, fez parar o cortejo fúnebre e voltar atrás. Porquê Jesus toca no esquife? Podia ter ordenado simplesmente dizendo: parem! Porquê para Lucas foi importante dizer-nos que Jesus tocou no esquife? O autor da Lei passa para o essencial. A compaixão passa à frente da pureza legal. O choro torna-se em louvor e as carpideiras em vez de lamentos, louvam o Deus da Vida. Deus tocou de forma visível (o esquife) e de forma invisível (os corações das pessoas). É um toque com o foco na compaixão de Jesus que comovido não fica insensível perante a nossa dor. Deus toma a iniciativa, vai até lá, vê, se compadece da mãe e pede-lhe para não chorar. Caminha, vê, se compadece, ordena, e toca e nada fica igual como estava! 

Não parte da fé da viúva, nem de um pedido de alguém, é um toque espontâneo de Jesus. Nos Evangelhos, Jesus louva a fé sempre que a encontra, se comove quando encontra fé e se admira com a falta dela! Mas o caminho da nossa fé, por vezes, é feito na escuridão da dúvida, na dor do pecado ou na alegria de um Deus que surpreende no caminho e nos faz avançar para Ele. 

Eu, ao rezar esta passagem do Evangelho senti um despertar para crentes e não crentes. Para vermos que há muitos caminhos nossos que Deus cruza connosco (tanto na alegria das bodas de Canaã como no choro do enterro) e, as lágrimas que caem ao chão, são uma oração na presença de Deus. Com esta fé e esperança, vê, ó Deus, os que choram os mortos com Covid19 ou as consequências desta pandemia e livra o Mundo dela! “Tu, ó Deus, estás sempre connosco mas nós é que não estamos sempre contigo”, ajuda-nos a viver mais contigo cada momento da nossa vida e para Ti, ó Deus!

“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”

Ir. Arta Izabel, op

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[1] TUYA Manuel de, Biblia Comentada, B. A. C., Madrid, 1961, pg. 810.

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