O MÊS DAS ESTRELAS
“O amor tudo pode, o amor vence todas as dificuldades”.
Teresa de Saldanha
Teresa de Saldanha
Acreditem quando vos digo que o céu
estrelado em Timor é diferente. Não há iluminação artificial das ruas, com o
seu clarão amarelado, que roube o esplendor tão próprio de cada estrelinha que
brilha no negrume da noite. A passear de noite, deitada na caixa aberta da
pick-up, a olhar o Alto, ou sentada confortavelmente no quentinho do carro,
percorrendo o alto da montanha, a olhar pela janela os vales e as pequenas
luzes das casas dispersas espalhadas nas encostas, tal céu estrelado na Terra,
faço minhas as palavras do Salmo: "Quando contemplo os céus, obra das Tuas
mãos, a Lua e as estrelas que Tu criaste, pergunto o que é o homem, para dele
Te lembrares, o filho do homem para que nele penses?" O Homem só pode ser
amado por este Pai-Nosso que está no Céu, este Pai que efetivamente está, este
Pai que é o Céu, que nos cobre nos dias de alegria e tristeza, que cobre todos
os lugares e todas as pessoas, que não tem fronteiras, que permanece
eternamente. Este Pai que fez a luz, que fez o mar e a terra, que fez as
plantas e os animais, que tudo criou. Mas, no que toca ao Homem, ousou dizer
"Façamos". "Façamos o Homem à minha imagem e semelhança".
Ousou dizer-me "Quero-te criar contigo", ousou dizer-me "Quero
que escrevamos a tua história juntos".
Passou mais um mês de missão. Mudei de
comunidade, permaneceu a fé de estar em fase crescente. De ser esta lua que
quer irradiar a luz que recebe do Sol, a caminho de se preencher, de viver
estas novas experiências, de se redescobrir e crescer nestas novas relações, ou
melhor, constelações que se vão formando. Porque cada um é uma estrela, porque
no olhar de cada um eu vejo um brilho celeste. De entusiasmo, quando começam a
explorar a flauta de bisel; de alegria, quando jogam o jogo do chinelo; de
carinho, quando competem para me dar a mão, me enchem de beijinhos e abraços e
me surpreendem; de realização, quando, cheios de atenção, apresentam em público
tudo o que prepararam com tanto cuidado, se vêm capazes de decifrar uma
partitura e de ouvir a música que eles próprios fazem soar. De muita amizade,
quando, entre português, tétum ou inglês, o importante é comunicar, quando
seguimos juntos ao final de mais um dia a aprender estas línguas uns com os
outros, a brincar ou a cantar, quando sei que, para onde quer que vá, tenho uns
meninos que correm para me fazer companhia e umas verdadeiras irmãs que me dão
a mão e ouvem as minhas histórias, sem que ninguém me deixe nunca sentir
sozinha.
Mais um mês de missão se passou. Há
momentos em que as saudades começam a ser menos fáceis de gerir e aquele
"ainda só passou um mês" por vezes gosta de aparecer entre o "já
passou mais um mês!!" que largamente me tem invadido por tudo o que tem
sido Timor neste meu caminho. São as alturas certas de recordar que, de facto,
as pessoas especiais, os meus companheiros, mesmo do outro lado do mundo, são
estrelas que continuam a brilhar e a saber-se fazer presentes. São as alturas
de saber que é hora de agarrar tudo ainda com mais força. "Há mais
estrelas no céu do que pedras no caminho..." É a altura de olhar para a
minha vida e perceber o quão feliz me sinto, o quão alinhada me sinto com Ele,
com o mundo, com os outros e com o meu próprio ser. É altura de olhar com
coração de ver e contemplar os fenómenos especiais de rara beleza que podem
acontecer: luas cheias, luas vermelhas, luas de fogo. "Sê quem Deus te
destinou a ser e o mundo se incendiará!"
Neste céu estrelado, sei que posso
sonhar ir ainda mais longe. Sei que feliz serei se acreditar que tudo o que foi dito por
Ele se cumprirá... por se cumprir comigo. Aqui, em Timor, este nosso Céu, este
nosso Pai é "Maromak" que significa literalmente "O
Brilhante". O que sempre brilha, o mais brilhante, aquele que, por mais
fácil que às vezes pudesse ser, tem um brilho que é impossível de conter. A
quem iremos se só Ele tem palavras de vida eterna?
Que o Seu brilho continue a iluminar
esta nossa missão.
Ana Emanuel Santos Nunes
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