ENTRE TANTOS - Ai, estes desafios malucos!

Quando me perguntavam o que queria ser quando fosse crescida, a minha resposta oscilava muito frequentemente: o meu sonho mais longo talvez tenha sido o de ser operadora de caixa no Continente (aquele bip era qualquer coisa e ver o sair o recibo era um encanto, não dá para me julgar!). Tive a minha fase de responder médica-legista (quem não com tantos episódios de Rex e CSI?), sonhei ser também escritora ou professora bibliotecária, bombeira também me cativava e não, nunca sonhei ser astronauta!
Assim como nunca sonhei ser maestrina. Acho que nunca fui aquela criança engraçada e adorável que vai aos concertos ou ouve música e começa instintivamente a dar aos braços. Mesmo depois de tantos anos na música e tocando em algumas orquestras, nunca achei que fosse algo para mim. Sempre olhei com muito respeito para os maestros e admiro a possibilidade que têm de poder liderar e ter um conjunto de músicos a concretizarem as suas ideias musicais, possibilidade essa que tem tanto de fantástico como de assustador. mas confesso que nunca o sequer o tinha ponderado.
Já perceberam onde quero chegar: sim, esta aqui na fotografia a dirigir uma orquestra juvenil sou eu!!



Deixem-me contar-vos como tudo aconteceu: abriu um concurso para clarinete num conservatório, concorri e, no dia da entrevista, dizem-me que esse horário contempla também uma aula de orquestra juvenil, que iria funcionar pelo primeiro ano, pela qual serei responsável. "Sentes-te à vontade para tal? Tens facilidade em arranjar repertório e trabalhar com eles?", perguntam eles. "Sim, claro, claro!", fala a boca aquilo que tem de dizer. Se ficar colocada, logo se lida com isso, cada coisa a seu tempo.
Fiquei colocada, graças a Deus, e a primeira coisa que me passou pela cabeça foi: "E agora?? Estou tramada e bem tramada!!"
Lá começou a aventura de conhecer os miúdos, arranjar partituras, treinar as minhas partes, pedir ajuda a colegas experientes nas lides da direção e de os orientar o melhor que pude durante este período.
Lá me fui sentindo cada vez mais à vontade perante um desafio que parecia muito maior do que ir para Timor 3 meses em missão, lá me fui libertando das minhas inseguranças e incertezas, acreditando nos colegas que me diziam que me estava a desenrascar bem e acreditando nos momentos bonitos que iam saindo durante os ensaios.
E eis que chega o concerto de Natal. O concerto da minha estreia como maestrina, o concerto de estreia da recém-formada orquestra juvenil. Eu e os miúdos estávamos nervosos, queríamos dar o nosso melhor e realmente esmerámo-nos.
Lembro-me de eles entrarem, todos perfilados pela ordem que tínhamos combinado, eu feita treinadora de futebol a dar mais 5 a todos à medida que passavam por mim em direção ao palco. Eles afinaram, entrei depois de uma respiração bem profunda. Lembro-me de estar ali em pé, com eles à minha frente, com o meu sorriso nervoso que quis transmitir confiança. Sabia-os prontos. Confiava neles.
E o primeiro acorde, da primeira obra, do primeiro concerto da primeira orquestra juvenil da escola, o temível primeiro acorde, foi maravilhoso e a partir de então foi descontrair e alegrar-me por cada coisinha: "yay, saiu bem", "OMG, foi lindo!", "ai, bravo!" era tudo o que a minha cabeça pensava.
Palmas mais que merecidas no final para nós! Eu sentia-me radiante, inchada de orgulho, e via-os a eles, a sorrir, verdadeiramente contentes com o que tinham conquistado! Foi festa!
Foi o turning point: agora são as férias e a minha cabeça já está cheia de ideias e estou ansiosa pela primeira aula deste período para as partilhar com eles e ouvir as deles também! Empolgadíssima!

Tudo isto porque está a começar um novo ano e quero que possam sentir momentos destes: de completa superação, surpresa e felicidade!
Por vezes aparecer-vos-ão destes desafios malucos, completamente fora da vossa zona de conforto, completamente impensáveis. São as melhores oportunidades para descobrirmos quem somos e o enorme potencial que existe dentro de nós, potencial esse que muitas vezes abafamos com os nossos preconceitos. Quão libertador é poder ir juntando sonhos nunca antes sonhados à nossa vida!

Que 2020 seja o ano de arriscares com tudo nos teus sonhos, os sonhados e os ainda por sonhar. É tudo parte de um caminho que fará o seu sentido. É tudo caminho para o Deus-Amor se manifestar e se revelar em ti e na tua vida. São tudo partes de ti que se vão juntando e completando.
Viva 2020!

Ana Emanuel Nunes

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