ENTRE TANTOS - A vós, queridas manas Augusta e Margarida
Sabem aqueles momentos que
sonhamos para o futuro, aquele futuro bem longínquo que tardam em chegar? Que
desejamos com tal intensidade que já nos imaginamos a vivê-los? Como quando
somos adolescentes e esperamos impacientemente pelos 18 anos para finalmente
entrar na universidade, termos a nossa (pseudo) liberdade e tirar a carta de
condução, ou como quem comprou os bilhetes para o seu cantor preferido que vem
ao seu país com um ano de antecedência ou simplesmente como quem deseja as
férias no Algarve num final de um ano de estudos e/ou trabalho.
Custa esperar mas, de repente, lá
estamos nós! A fazer kms por semana, com cursos já terminados, ou de braços no
ar e roucos de tanto cantar, ou já bronzeados (ou quem sabe até com um
escaldão!) de tanto aproveitar a praia! Parecia que nunca mais e ei-lo aqui, no
presente, a ser vivido com um sentido meio que surreal.
Pois, foi que se passou comigo e
com as minhas manas Augusta e Margarida. Metemo-nos em Timor, em pleno verão de
2018, a sonhar com um reencontro, quem sabe se no dia da sua primeira profissão,
bem no início de 2020, com um retorno meu aquelas terras tão queridas…
Ups! Mais uma vez! Aqui estamos
nós bem no início de 2020 e, com muita pena, não voltei a viajar até Timor para
estar junto delas. Mas talvez tenha encontrado neste texto a oportunidade de me
tentar fazer presente e (lhes) mostrar o quão é importante é também para mim
vê-las dar este passo.
Conheci as manas aquando da minha
missão em Timor, na comunidade do Remexio. Eram as duas irmãs timorenses que
estavam no noviciado, com os seus horários e tarefas próprias. As duas especiais,
cada qual do seu modo, que durante o meu período com elas tudo fizeram para que
me sentisse bem e que me mostraram os seus bonitos corações.
Descrever-vos as irmãs seria
difícil e um tudo ou quanto limitador. Prefiro antes contar-vos alguns momentos
que partilhamos que as dão a conhecer:
- Quando
fui para Timor, tinha como missão ensinar música, aos meninos dos ATL mas
também às noviças. Divertimo-nos à brava todas juntas, a Irmã Margarida a
apanhar tudo cheia de genica, a Irmã Augusta, menos despachada, mas com uma
humildade perante as suas dificuldades que me serviu de exemplo. Sem
frustrações, sempre a tentar com um sorriso nos lábios.
Ir. Augusta
- Perante a minha composição em tétum, para ver se aprendia cada vez mais a língua como muito gostaria, a Irmã Margarida riu-se incontrolavelmente perante a minha ideia e sobretudo pelo que tinha escrito. (“Eu chamo-me Ana. (…) Eu sou portuguesa. (…) Eu vivo com as Irmãs. (…) O cão das irmãs chama-se Farrusco. Eu gosto de brincar com o Farrusco.” – estilo de composições de inglês do 5º ano :p). Fez as devidas correções e, no final, devolveu-me o caderno com um “Obrigada barak” escrito no fundo. Já a Irmã Augusta leu tudo com um sorriso cheio de espanto e, quando terminou, fartou-se de me incentivar, a dizer que estava muito bem e a aprender muito depressa. “Como sabe tantas palavras?” (bendito dicionário da Ir. Ana Lucas…)
Farrusco
São ambas aquelas irmãs que, nos
primeiros dias, mais ou menos tímidas, se foram metendo comigo, no melhor
português que sabiam, para me fazer sentir o mais acolhida possível e que terminaram
a ouvir os meus desabafos na cozinha, quando regressava ao final de mais um dia de trabalho; foram
ambas as irmãs que, às quartas-feiras, quando o terço era rezado em tétum no
convento, se calhavam no meu coro, faziam toda a gente abrandar o ritmo para
que eu as pudesse acompanhar com a minha cartilha e depois de cor e que também se juntavam a mim
no piano para aprenderem os cânticos portugueses; foram ambas as irmãs com quem
refleti os sete sacramentos na catequese e com quem festejei quando, finalmente,
nos calhou a rifa nº14 da quermesse e nos metemos no pátio, em pleno sol do
meio-dia, a jogar volley com a bola que tanto desejáramos.
Já deu para entender que são
mesmo irmãs, que partilharam este caminho de discernimento juntas, tais Maria e
Marta, diferentes mas que unidas se complementam. Autênticas irmãs ao serviço,
quer nas lides da casa, nunca enfadadas quer fosse para cozinhar, lavar ou
cultivar, como no cuidado com o outro, na simpatia e carinho gratuito, desde as
crianças aos idosos. Autênticas irmãs ao serviço, na oração e no desejo de
saber mais.
Ir. Margarida
A vós, queridas manas:
Teresa de Saldanha olha-vos a
sorrir do céu, tenho a certeza. Continuarão a ser as suas mãos aqui na terra,
que se deixam guiar pelo Espírito Santo e que falarão de Jesus, o nosso mestre,
em tudo quanto fizerem e derem. Que esta profissão reforce a firmeza dos vossos
passos nesta caminhada. Deste lado, a mana Ana reza por vós, para que escolham
sempre a melhor parte: servir. E porque quem reza ama em silêncio… um abraço
cheio de amor para cada uma! Até breve!
Ana Emanuel Nunes
Gostei muito Uma.mensagem maravilhosa pelo lindo testemunho da Ana Emanuel. Obrigada.
ResponderEliminarMaravilha de testemunho. Gostei muito e mostra a extraordinária experiência que viveram juntas. Beijinhos
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