Divagações Espirituais: O toque que mais me “tocou”?


Prisão de Jesus - ἁψáμενος (Lc 22, 51) 
Pedro decide defender Jesus e com a espada, corta a orelha direita a um dos servos do sumo-sacerdote. O servo não pediu a cura e nem os outros pediram por ele. Era dos que foram impor as mãos para prender Jesus, para matar Jesus e Jesus estende a Mão para o curar. Eu imagino a cena e é um ato tão “espontâneo” para Deus. Jesus não olha para ele como um lobo que está ali para atacar mas, como uma ovelha ferida que precisa ser curada e, cura a orelha somente tocando nela . Em todos os toques este foi o que mais me “tocou”. Porque foi ao prender estas Mãos que curaram tantas pessoas! Tocaram na nossa podridão (lepra ou pecados) e cura até os inimigos. Se deixa para ser tocado nem que seja no manto, apertado ou empurrado, amarrado e flagelado e crucificado, O negamos porém volta e de nós Ele não quer desistir!
                                                                             
(ó admirável paradoxo!
 Diz o inimigo ao Amigo: 
As minhas mãos sobre Ti vou lançar para Te tocar, prender e crucificar.
Responde Jesus: 
antes que isto aconteça, Eu vou te tocar e curar. Morro em teu lugar para que possas ressuscitar!
Que Deus é este que tanto nos quer perdoar e amar?)

Santo Agostinho interpreta esta passagem do Evangelho dizendo: Que significa então esta orelha cortada para defender o Senhor e pelo Senhor curada, senão o ouvido renovado para que se renove e se escute com a novidade do espírito e não na antiguidade da letra .                                                         

Conclusão
Termino assim estas cinco reflexões acerca do Toque. Foi encantador refletir neste magnífico gesto, nesta palavra “toque” que se esconde entre outras palavras. Ver que o nosso Deus tocou e foi tocado pelas pessoas. Um Deus que rompe os nossos “esquemas de Deus” mudou o padrão, a nossa forma de entender e agir, pelo menos dos que se deixam tocar por Ele. Um Deus igual a nós? O paradigma mudou de tal forma que, se no AT lemos que era preciso morrer para ver Deus face a face; no Evangelho de São João lemos: “Se não o tocar não acreditarei” e depois de ser convidado a tocar, Tomé exclama: Meu Senhor e meu Deus. Se para os discípulos que conheceram Jesus tocando n´Ele, mesmo depois da ressurreição precisaram tocar para crer de modo a não serem iludidos, para os Sumos-Sacerdotes, foi o toque que os fez tropeçar pois não esperavam um Deus que pudesse ser tocado e nem sequer visto antes de morrer.    
“Aqueles que o crucificaram, O viram e O tocaram, e assim poucos acreditaram n´Ele; nós não O vimos e não o tocamos com a mão: ouvimos e acreditamos!   Este gesto de tocar mostra que o Reino de Deus, anunciado por Jesus, não é uma palavra abstrata mas uma palavra em ação, performativa, criadora de uma vida nova, capaz de renovar o mundo e o homem. Jesus tocou porque nós precisamos do toque. Mesmo hoje que devemos manter distância física esta necessidade de proximidade permanece muito viva. Na Albânia as pessoas com mais idade conservam esta tradição de toque, nas igrejas vemos muitas pessoas a tocar nas Imagens dos Santos, no altar ou no Sacrário com profunda devoção e crianças imitando. 
Quem Me tocou? Fui eu, o pecador o doente… E a mim pobre pecador, surdo, cego, coberto de lepra, estava morto, eu vim prender-Te, Quem me tocou? Fui Eu, o teu Deus! Sou Eu, deixa-Me perdoar-te e curar-te. Vem, vê, olha, toca. Vem, a ti me entrego nos Sacramentos e na Hóstia Consagrada! Também estou no Meu irmão e na Minha Irmã, o que fizerdes em Meu Nome, a Mim o fareis. 
Ajuda-nos ó Deus a acolher-Te e a voltarmos para Ti no começo desta Quaresma com o convite: “convertei-vos a Mim de todo o coração, voltem para o Senhor, o seu Deus, pois ele é misericordioso e compassivo, muito paciente e cheio de amor”. Estende-nos a Mão ó Deus e voltaremos!

Ir. Arta Izabel
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1. TUYA Manuel de, Biblia Comentada, B. A. C., Madrid, 1961, pg. 915. 
2. AGOSTINO DE HIPONA, Comento al Vangelo e alla Pima Epistola di San Giovanni, Città Nuova Editrice, Roma, 1968, Omelia CXII, 5. 
3. AGOSTINO DE HIPONA, Comento al Vangelo e alla Pima Epistola di San Giovanni, Città Nuova Editrice, Roma, 1968, Omelia, XVI, 4. 
4. Ibidem, pg. 201.

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