Quem adoras?

 


“O Deus Escondido” – Nicolau de Cusa


“Gentio: Vejo-te prostrado Vejo-te assim prostrado, com grande devoção, a derramar lágrimas de amor, não fingidas, mas sinceras; diz-me, quem és tu? 

Cristão- Sou cristão. 

G.- A quem adoras?

C.-A Deus. 

G.- Quem é esse Deus que adoras? 

C.-Não sei. 

G. - Como é que adoras tão seriamente o que ignoras? 

C.- Adoro porque ignoro.” 


É assim que começa este belíssimo texto. É um diálogo entre um gentio e um cristão. O diálogo começa pelo gentio que se interroga perante a atitude orante e amorosa do cristão na presença do seu Deus. Nesta obra o gentio faz um caminho de aprendizagem, coloca perguntas e obtendo as respostas chega à fé esclarecida e adora igualmente o Deus verdadeiro. 

O cristão prostrado adora e ama o seu Deus derramando lagrimas de amor por Ele. É impossível que alguém estando em pleno juízo tem um amor ardente para alguém totalmente desconhecido ou adorar alguém totalmente ausente. Diz que O adora porque O ignora e, ignorando adora. Mas é uma douta ignorância. Se o conhecesse na totalidade quem é Deus na sua essência, deixaria de ser Deus. Não que o cristão esteja privado de razão mas não julga saber quem é Deus em si mesmo, pois enganava-se a si mesmo. Ele não tem a presunção de julgar saber quem é Deus mas pelo contrário julga ignorar muito mais do que sabe acerca de Deus. 

Se existe a dificuldade de exprimir a essência das coisas que julgamos conhecer, dos seres finitos, objeto dos nossos sentidos, quanto mais a essência do Infinito. A verdade em si mesma é igual, a diferença está na pessoa que vê. E se alguém é cego, não pode negar a cor. Começa-se por respeitar a verdade e a desejar. É o desejo da Verdade que leva a adoração. Adora-O e O verás. 

Se queres descobrir onde Deus está oculto pois “apareceste-me, Senhor, algumas vezes, como invisível a toda a criatura, porque é o Deus escondido infinito”. No entanto, sendo “invisível, és visto por todos e em todo o olhar”. Estas frases, nos ajudam a perceber a complexidade do mistério que é, ao mesmo, tempo simplicidade na medida em que se revela. “Queres ser compreendido como algo que eu possua e permaneces incompreensível e infinito porque és o tesouro das minhas delícias cujo fim ninguém pode desejar”, muitos aspiram pelo infinito que é Deus. Como vimos o gentio também aspirava conhecer Deus.   

O nosso dever é aspirar, buscar Deus que mais do que se esconde se revela. As vezes a nossa fraca natureza é fazer como conta uma história do hassidim: “O sobrinho de Rabi Baruch jogava um dia as escondidas com outro rapaz. Se escondeu bem escondido e, depois de esperar um longo tempo, saiu do esconderijo e deu conta que o outro não o tinha procurado. O outro não jogou. O sobrinho chorou e foi para o quarto do avô lamentando-se do mau comportamento. Os olhos de Baruch se encheram de lágrimas e disse: assim também disse Deus “Eu Me escondo mas ninguém Me quer procurar”. Ninguém me quer procurar! Deus se lamenta em várias passagens bíblicas.



Onde estás ó Deus? Como Te posso encontrar?


Este é um caminho racional que ajuda a chegar a uma fé esclarecida e verdadeira. Procura largar os horizontes do entendimento na busca da verdade. Sabemos que as questões/perguntas são o princípio do saber filosófico. E nesta obra são tão importantes quanto as respostas. São um caminho. É um caminho ascendente da razão para chegar a fé. O Deus escondido, para Cusa, é o Deus que vê tudo. Por isso se prostra em adoração suplicando Aquele que tudo vê para que se lhe revele. Apenas Deus se pode comunicar como verdade absoluta. Cusa, pela adoração e a verdadeira sabedoria, nos ensina progredir na busca/encontro. Para Cusa, Jesus com a vida e Palavra nos ensinou que Deus uno e Trino. Implica fé, busca e acolhimento e, o resultado é a felicidade.

Ajuda-nos ó Deus a desejar  encontrar-Te em cada dia da nossa vida e adorar a Ti, ó Deus Uno e Trino!

Ir. Arta Lekaj






































Comentários

  1. Gostei muito ir. Arta assim e o Deus escondido de Francisco Marto , mas sempre Presente. ir. Isabel

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