Peregrinação a Santiago de Compostela: mais quilómetros com Deus!
O ano em que decidi juntar mais
uns quilómetros no meu caminho com Deus.
Porquê Santiago de Compostela?
Porque em Itália, o Espírito Santo deu-me a confirmação de que Jesus realmente
existe. Em Fátima, o Espírito Santo fez-me ver que há muitos cristãos sozinhos
a tentar seguir Deus, cada um à sua maneira. Em Finisterra, o Espírito Santo
fez-me lembrar que o caminho nunca acaba. Nos retiros, o Espírito Santo fez-me
perceber que a chama tem que ser constantemente alimentada. No campo de
trabalho e agora no meu emprego, o Espírito Santo fez-me lembrar que todos
precisamos de nos sentir amados e guiados por Deus e pelo próximo (porque, sim
minha querida criança, Deus também nos consegue ver, quando estamos dentro de
casa, por isso somos constantemente vigiados e amados).
E agora a pergunta era: É
possível fazer o caminho sozinho? Onde está a minha família cristã? Estou a
fazer o caminho certo? Onde está a minha confiança e coragem para me entregar
mais? A proposta da Irmã pareceu-me o caminho certo para descobrir mais algumas
respostas, para me voltar a encontrar e para acabar este ano letivo em grande.
E parece que segui, que ganhei, que TE levei à minha frente, cheguei a Santiago
de Compostela e gritei de coração cheio: SOU PEREGRINO!
E passado quase um mês,
ainda me encontro sem palavras! Sem palavras para descrever as respostas que
encontrei (muitas mais do que as dúvidas que me surgiam), a experiência que
vivi, as pessoas que conheci, o que senti, o que aprendi e o quanto cresci!!!
102 km
102 km de muitas dores,
cansaço, controlo, sede, bexiga cheia, cabeça a rebentar, dúvidas, imprevistos…
Mas o que é isto comparado com
o dia-a-dia? O que é isto comparado com a nossa vida, cheia de dúvidas,
obstáculos, imprevistos, desilusões, dores, perdas, sofrimento?
NADA!
Isto é só um exemplo e uma
esperança de que apesar de todas as dificuldades da vida, a alegria, as
conquistas, a família, os amigos, o amor, o respeito, a entreajuda, a beleza
gritam sempre mais alto, a ponto de pôr todas as adversidades de lado e nos dar
fé, humildade, esperança, paciência, confiança para caminhar com Deus e ver o
dom que a vida é e nos dá!
Então, o que fica guardado
destes 102 km? A entrega, o amor, o carinho, a curiosidade, as perguntas, as
respostas, a dedicação, a confiança, a esperança, o conhecimento, a amizade, a
alegria, o apoio, o respeito! A UNIÃO!
Foi um caminho que me fez
crescer e voltar a encontrar o meu verdadeiro eu, clarear os dons que Deus me
deu e o que tenho que melhorar! Foi um caminho que me fez crescer no sentido de
confiar mais, deixar-me levar onde Deus me quer levar, ser sempre mais, dar
sempre mais.
Num mundo cheio de leis,
regras, códigos, burocracias é estranho haver cada vez menos pessoas que tenham
a coragem de seguir também os mandamentos de Deus - leis essas que só nos levam
a viver em paz e amor connosco próprios e com os outros. E por isso, se há
coisa que trago da peregrinação é um agradecimento genuíno!
Porque, em cada um
dos peregrinos, encontrei o lugar onde mora Jesus, o lugar onde o meu coração sempre
quis morar, e finalmente conseguiu! Encontrei a minha casa, fora de casa!
Reencontrei a confiança e coragem para ser eu, a confiança e coragem para
querer o que Deus quer de mim (que no dia-a-dia torna-se tão fácil de perder,
por todas as tentações que se atravessam todos os dias no nosso caminho.
Tentações essas que nos levam ao comodismo e nos fazem esquecer o que o Papa
nos pediu: calçar as sapatilhas e viver cada dia, dando tudo de nós, sendo
inteiros, retos, e coerentes).
Reencontrei a força para me entregar mais aos
outros, mesmo com o medo que sempre sinto em não conseguir fazer emergir a
criança que há em cada um e não fazê-lo esboçar um sorriso sincero; medo de
futuramente perder essa pessoa! Aprendi a viver o momento presente e a
lembrar-me sempre que apesar do que possa acontecer futuramente, cada coisa que
fazemos de coração, vale sempre a pena! Não importa se nos dão valor, se nos
agradecem! Não podemos estar sempre à espera de algo, para haver razão para fazer
o bem! O melhor presente em fazer o que Deus quer de nós, no mais pequeno
pormenor, é sentirmos-nos amados por ele, é sentirmos-nos de consciência
tranquila, é sentirmos-nos capazes de chegar ao fim do caminho que ele traçou
para nós.
E depois de alguns dias a
trabalhar, alguns dias em casa com a família, alguns dias com os amigos, sei
que a caminhada continua, que não acabou em Santiago, mas sim começou, porque
em grupo é fácil viver e seguir a estrada certa, mas sozinhos é sempre mais
difícil. Por isso, o desafio começa agora, o desafio está em sabermos continuar
este caminho, em não nos perdermos da rota e em não perdermos esta família que
escolhemos e construímos! Porque sozinhos vamos mais rápido, mas juntos vamos
mais longe!
Mafalda Pinto
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