Peregrinação a Santiago de Compostela: mais quilómetros com Deus!

-->Um ano letivo que começou com a minha entrada na universidade, no curso, que sempre senti ser a minha vocação (mas que, a cada ano da minha curta vida, os níveis de desemprego, me estavam a deixar com mais receio em escolhê-lo). O ano em que, depois de três tentativas, finalmente, decidi ir em frente na minha relação com Deus e fazer o Crisma por minha própria e espontânea vontade (não só por vontade dos pais ou pelo desejo de ser futuramente madrinha ou só para dizer que sou boa menina). O ano em que a minha vida pessoal deu uma reviravolta. O ano em que me encontrei. O ano em que cresci, pois tive que a aprender a saber ser um pouco mais independente e gerir a minha conta bancária, as minhas emoções, o meu tempo e a não me perder na vida académica. O ano em que decidi encontrar um emprego de férias diferente e arriscar cuidar de crianças numa família desconhecida (sim, o meu receio são os adultos e não as crianças). O ano em que decidi fazer uma experiência diferente num país diferente, no ano a seguir. 
O ano em que decidi juntar mais uns quilómetros no meu caminho com Deus. 


Porquê Santiago de Compostela? Porque em Itália, o Espírito Santo deu-me a confirmação de que Jesus realmente existe. Em Fátima, o Espírito Santo fez-me ver que há muitos cristãos sozinhos a tentar seguir Deus, cada um à sua maneira. Em Finisterra, o Espírito Santo fez-me lembrar que o caminho nunca acaba. Nos retiros, o Espírito Santo fez-me perceber que a chama tem que ser constantemente alimentada. No campo de trabalho e agora no meu emprego, o Espírito Santo fez-me lembrar que todos precisamos de nos sentir amados e guiados por Deus e pelo próximo (porque, sim minha querida criança, Deus também nos consegue ver, quando estamos dentro de casa, por isso somos constantemente vigiados e amados).
E agora a pergunta era: É possível fazer o caminho sozinho? Onde está a minha família cristã? Estou a fazer o caminho certo? Onde está a minha confiança e coragem para me entregar mais? A proposta da Irmã pareceu-me o caminho certo para descobrir mais algumas respostas, para me voltar a encontrar e para acabar este ano letivo em grande. E parece que segui, que ganhei, que TE levei à minha frente, cheguei a Santiago de Compostela e gritei de coração cheio: SOU PEREGRINO! 

E passado quase um mês, ainda me encontro sem palavras! Sem palavras para descrever as respostas que encontrei (muitas mais do que as dúvidas que me surgiam), a experiência que vivi, as pessoas que conheci, o que senti, o que aprendi e o quanto cresci!!!

102 km

102 km de muitas dores, cansaço, controlo, sede, bexiga cheia, cabeça a rebentar, dúvidas, imprevistos…

Mas o que é isto comparado com o dia-a-dia? O que é isto comparado com a nossa vida, cheia de dúvidas, obstáculos, imprevistos, desilusões, dores, perdas, sofrimento?
NADA!
Isto é só um exemplo e uma esperança de que apesar de todas as dificuldades da vida, a alegria, as conquistas, a família, os amigos, o amor, o respeito, a entreajuda, a beleza gritam sempre mais alto, a ponto de pôr todas as adversidades de lado e nos dar fé, humildade, esperança, paciência, confiança para caminhar com Deus e ver o dom que a vida é e nos dá!

Então, o que fica guardado destes 102 km? A entrega, o amor, o carinho, a curiosidade, as perguntas, as respostas, a dedicação, a confiança, a esperança, o conhecimento, a amizade, a alegria, o apoio, o respeito! A UNIÃO! 

Foi um caminho que me fez crescer e voltar a encontrar o meu verdadeiro eu, clarear os dons que Deus me deu e o que tenho que melhorar! Foi um caminho que me fez crescer no sentido de confiar mais, deixar-me levar onde Deus me quer levar, ser sempre mais, dar sempre mais.
Num mundo cheio de leis, regras, códigos, burocracias é estranho haver cada vez menos pessoas que tenham a coragem de seguir também os mandamentos de Deus - leis essas que só nos levam a viver em paz e amor connosco próprios e com os outros. E por isso, se há coisa que trago da peregrinação é um agradecimento genuíno! 

Porque, em cada um dos peregrinos, encontrei o lugar onde mora Jesus, o lugar onde o meu coração sempre quis morar, e finalmente conseguiu! Encontrei a minha casa, fora de casa! Reencontrei a confiança e coragem para ser eu, a confiança e coragem para querer o que Deus quer de mim (que no dia-a-dia torna-se tão fácil de perder, por todas as tentações que se atravessam todos os dias no nosso caminho. Tentações essas que nos levam ao comodismo e nos fazem esquecer o que o Papa nos pediu: calçar as sapatilhas e viver cada dia, dando tudo de nós, sendo inteiros, retos, e coerentes).

Reencontrei a força para me entregar mais aos outros, mesmo com o medo que sempre sinto em não conseguir fazer emergir a criança que há em cada um e não fazê-lo esboçar um sorriso sincero; medo de futuramente perder essa pessoa! Aprendi a viver o momento presente e a lembrar-me sempre que apesar do que possa acontecer futuramente, cada coisa que fazemos de coração, vale sempre a pena! Não importa se nos dão valor, se nos agradecem! Não podemos estar sempre à espera de algo, para haver razão para fazer o bem! O melhor presente em fazer o que Deus quer de nós, no mais pequeno pormenor, é sentirmos-nos amados por ele, é sentirmos-nos de consciência tranquila, é sentirmos-nos capazes de chegar ao fim do caminho que ele traçou para nós.

E depois de alguns dias a trabalhar, alguns dias em casa com a família, alguns dias com os amigos, sei que a caminhada continua, que não acabou em Santiago, mas sim começou, porque em grupo é fácil viver e seguir a estrada certa, mas sozinhos é sempre mais difícil. Por isso, o desafio começa agora, o desafio está em sabermos continuar este caminho, em não nos perdermos da rota e em não perdermos esta família que escolhemos e construímos! Porque sozinhos vamos mais rápido, mas juntos vamos mais longe!

 Mafalda Pinto

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