São Domingos: memórias de uma Peregrinação

Peregrinar é pormo-nos a caminho em direção a um lugar sagrado. Não é só caminhar, é caminhar com o corpo e sobretudo com o espírito, com o coração. Peregrinar é dispormos o nosso coração para fazer encontro, encontro com Aquele que nos move, encontro com Deus.

 Cueva de S. Domingos, Segovia 
 Peregrinar aos lugares de S. Domingos é fazer este encontro duplamente. Encontramo-nos com Domingos e com Deus através de Domingos. São Domingos é um homem que entregou toda a sua vida a Deus, d’Ele falava aos irmãos durante o dia e com Ele falava à noite sobre os irmãos. Percorrer os seus lugares em Espanha é ver as marcas de Deus na sua vida. É sentir ainda a frescura de seus passos naqueles lugares a ele intimamente ligados. Sabemos que passaram 8 séculos desde a sua passagem por ali, mas o seu espírito vive ainda em cada um daqueles sítios.

Caleruega, Clunia, Silos, Gumiel de Hizan, Haza, Osma, La Vid, Lerma, Burgos, Segovia e Olmedo, foram os locais de presença dominicana onde passamos. Em cada um deles há uma história, há uma marca inegável de que a obra de Deus começada com Domingos continua ainda hoje.
: Fr. Jesus na Badega de B. Joana, Caleruega
A nossa peregrinação começou no dia 12 de Junho, na comunidade da Guarda, onde os nossos manos noviços dominicanos se juntaram a nós para o almoço. Depois, de uma pequena oração na capela da comunidade, divididos pelas duas carrinhas nos pusemos ao caminho direito a Caleruega, onde chegamos ao cair da noite. Fomos recebidos pelo Prior da comunidade dos irmãos, o Fr. Julian de Cós, desejando-nos uma boa estadia e uma boa peregrinação.
No dia, 13 de Junho, detivemo-nos em Caleruega, onde acompanhados pelo Fr. Jesus percorremos o Convento dos Frades, visitando a Bodega (adega) da Beata Joana; o Mosteiro das Monjas; a Igreja de S. Domingos e descemos até ao poço de Domingos, que marca o sítio onde ele nasceu. À tarde, rumamos a Clunia, onde estão as ruinas de uma cidade romana, onde existe a Igreja mandada construir por Joana d’Aza. Domingos frequentava-a e conta a história que um dia levou consigo todas as crianças da vila e lá lhes falou de episódios do Evangelho, rezando umas Avé-Marias no fim. E assim talvez se explique a devoção mariana do Rosário, espalhada por Domingos uns anos mais tarde. O final do dia de Santo António passámos-lo em Silos, com visita ao mosteiro beneditino de S. Domingos de Silos e terminando com a oração de vésperas na igreja com os monges.

 Em Gumiel de Hizan
Dia 14, o nosso dia foi marcado pela visita aos lugares da infância e juventude de Domingos.
De manhã viajamos até Gumiel de Hizan, onde Domingos viveu dos 7 aos 14 anos, ao cuidado do tio arcipreste, estudando nesta vila. Visitamos a Igreja Paroquial e estivemos em frente da casa onde S. Domingos viveu. Continuando a nossa viagem deslocamos-nos até Haza, a terra da nossa avó na ordem, uma aldeia com pouco mais de 30 habitantes. Ali celebramos a eucaristia na Igreja recém-restaurada e onde se venera a Beata Joana d’Aza. Na parte da tarde, fomos até à catedral de Osma, onde S. Domingos foi cónego de Santo Agostinho e onde vivia quando foi com o Bispo D. Diego para o norte da europa e se cruzou com os hereges. Cumprindo a tradição sentámos-nos na cadeira do coro que era ocupada por S. Domingos. Assim, pedimos a graça de nos tornarmos mais dignos de pertencer a esta nobre família dominicana. O fim da tarde foi passado no Mosteiro de Santa Maria de La Vid, hoje ao cuidado dos padres da Ordem de Santo Agostinho. Neste mosteiro considera-se S. Domingos como filho da casa, pois aqui recebeu os primeiros ensinamentos, quando optou pela vida eclesiástica, como frade Premonstratense, antes de se ser cónego de Osma.

Dia 15, dia de Corpo de Deus em Portugal, celebramos a Eucaristia no poço de S. Domingos logo pela manhã. Voltar a este lugar tão especial, onde sabemos que Domingos esteve encheu-nos de alegria. O dia prometia ser longo, pois os lugares a visitar eram distantes de Caleruega. A primeira paragem aconteceu em Lerma, onde visitamos as monjas dominicanas do Mosteiro de S. Brás. A comunidade das monjas é bastante jovem e conta com quatro juniores. Ali imperou a alegria e amizade, testemunhada nos cânticos e nas danças, quer de um lado quer do outro do locutório. Partilhamos sentimentos, experiências e alegria de sermos todos dominicanos. Este foi sem dúvida alguma um dos momentos mais marcantes de toda esta peregrinação. Ficou em mim, este sentimento de gratidão por ser filha de S. Domingos. A nossa viagem continuou até Burgos onde visitamos a Catedral, um imponente monumento, rico em todos os aspetos, que nos impressiona pela sua grandeza e beleza! Nesta cidade houve um convento Dominicano, do qual nada resta, existindo a marca desta presença pelo nome da praça de S. Domingos. Retomando o nosso caminho, visitamos nos arredores da cidade de Burgos a Cartuxa de Miraflores. Aqui a regra dos monges cartuxos é bastante austera, pelo que não vimos os monges, mas visitamos a Igreja do mosteiro, onde se diz que também S. Domingos esteve. O nosso fim de tarde foi passado no Mosteiro Trapista de S. Pedro de Cardeña, o qual visitamos e onde também tivemos possibilidade de rezar com os monges a hora de vésperas. E na diferença de cada uma das nossas ordens, vemos beleza da unidade da Igreja! Pois, não interessa se fomos fundados por Bento, Bernardo ou Domingos, o que nos une a todos é o seguimento do mesmo e único Jesus Cristo. Foi este o sentimento que ficou no fim da oração!
 Com as Monjas Dominicanas em Lerma
Dia 16, fizemos uma das viagens mais longas deste nosso roteiro. Segovia (primeira Imagem) foi o nosso destino. Para aqui Domingos enviou irmãos para fundarem uma comunidade, mas passado algum tempo, perante as dificuldades os frades voltaram a casa. Domingos veio então para esta cidade e ele mesmo fundou a comunidade. Muitas noites passou na Cueva, onde se detinha em oração e contemplação, para ter força para continuar a fundação. Foi no fresco da cova de S. Domingos, hoje uma pequena capela, que celebramos a Eucaristia. E os meus olhos encheram-se de lágrimas, tal foi a emoção que me envolveu. Aqui senti plenamente a presença de Domingos. Senti-o naquele lugar a rezar, nas diferentes formas, implorando a misericórdia de Deus para si e para os irmãos. O desejo de penitência e de oração, como forma de me aproximar ainda mais de Deus foi a mensagem que me ficou gravada. Ainda em Segovia visitamos a pequena comunidade das monjas dominicanas, que são as guardadoras da cova de Domingos. No regresso a Caleruega, rezamos a hora de vésperas com as monjas, dando graças pelo dom da vida de Soror Teresa, uma jovem irmã desta comunidade. E assim nos despedimos da vila que nos acolheu ao longo de uma semana.

 Frades Dominicanos (Fr. Filipe e Noviços angolanos)
Dia 17, deixando os nossos irmãos do Convento de S. Domingos, rumamos para Portugal. Porém, ainda tivemos tempo de ir até Olmedo, visitar as monjas e celebrar a Eucaristia na sua capela. Aqui neste mosteiro vivem cerca de 40 monjas, de 21 nacionalidades. Ao longo dos anos daqui partiram monjas para fundar mosteiros noutros países e agora não havendo vocações espanholas, as monjas desses mosteiros vêm reforçar a comunidade de Olmedo. Entre elas impera alegria e a fraternidade. Receberam-nos de braços abertos e connosco fizeram festa. Assim, num clima de festa e um grande sentimento de pertença à família dominicana nos pusemos a caminho de Portugal, a fim de regressarmos às nossas comunidades.

Irmãs Juniores da Congregação presentes em Portugal
O sentimento que me fica desta semana é a alegria de sermos jovens... jovens Irmãs e Frades dominicanos. A alegria de juntos percorrermos os lugares de S. Domingos em Espanha. A alegria de sermos família... família dominicana, família de pregadores. Obrigada! Foi uma semana fantástica!
Ir. Ana Margarida Lucas
11 Julho 2017


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