“Divagar espiritualmente” - O que é a vida feliz

 

O que é a vida feliz?
Gosto de “Divagar espiritualmente” e partilho aqui o que a mim me ajuda a caminhar. Neste tempo pascal em que vimos o que Deus fez por nós, a prova do amor que nos tem, nos interroguemos, e nós como podemos viver a alegria pascal? “O que é a vida perfeita?”, pergunta São Gregório de Nissa e ele responde com um exemplo analógico: a “Vida de Moisés”[1]. Faz uma bela analogia da “vida de Moisés” com a nossa vida espiritual. E vida perfeita é a amizade com Deus e estar sempre disposto a caminhar com Ele e para Ele.

O começo da caminhada espiritual

Nos anima muito logo de início porque começa por dizer que todo o tempo é oportuno de começar a caminhada espiritual, mesmo quando exteriormente parece impossível e só se vêm contrariedades e impedimentos. “Moisés nasceu precisamente quando o tirano havia ordenado matar os varões (Ex 1, 16)”. A própria natureza humana oferece constantemente esta oportunidade pela constante mutação e exige que se tomem decisões: aceitar livremente caminhar com Deus ou recusar a cada instante. Não podemos culpabilizar os outros pelas nossas escolhas pois “somos, num certo sentido, nossos próprios pais, criando-nos a nós próprios, conforme queremos ser e formando-nos, pela nossa vontade, conforme ao modelo que escolhemos”. Os modelos podem ser bons ou maus. Os pais são os nossos que nos vão gerando. Eles não param de nos gerar como vimos acima, e é importante que lhes demos bons alimentos e nos cristãos temos Jesus Cristo, o nosso verdadeiro Alimento vindo do Céu, na Eucaristia, alimentar do Seu exemplo. A vida se compara com o rio de água em constante percurso e que pode levar-nos ao bom porto se tiver a prudência (educação e disciplina) como os pais ao construir o cesto onde foi colocado Moisés.

Terra Prometida – Amizade com Deus

O modelo concreto de Moisés prossegue mostrando as várias etapas que se devem percorrer até chegar atingir os objetivos a que se propõe. Na “vida perfeita nenhum limite impede de avançar…”. Moisés depois de um encontro com Deus, de fugitivo por medo, vai para libertar os seus compatriotas conforme a missão recebida. A alma que se propõe caminhar em direção a Deus, depois de ter feito a sua experiencia, o primeiro encontro com Ele, se sente corajosa para a missão e consegue realizar o que aparentemente é impossível, pois não está só. Como Moisés que “conduz a pé através do mar este povo, sem haver preparado para si uma frota de navios, mas aprovisionando-os para a navegação com a fé como se fosse um navio; faz do abismo terra firme para os hebreus, e da terra firme, mar para os egípcios”, assim é possível eliminar os vícios e progredir na virtude. Mas qual é a nossa meta, o nosso objetivo? O nosso objetivo “é ser chamados servidores de Deus pelas nossas ações” e aspirar acima de tudo “ser Amigo de Deus”. Quem ama Deus, ama também a Sua Lei e Suas propostas pois faz parte do caminho. Para ser Seu amigo é preciso conhece-Lo, na medida do possível. Buscar Deus na história da Revelação, na sua Palavra com toda a nossa inteligência e com toda a alma pois devemos ter em conta que “o que buscamos transcende todo o conhecimento”. “Ver no não ver”. Esta amizade consiste no amor:
              em afastar-se da vida de pecado não por temor servil do castigo, e em fazer o bem não pela esperança do prémio, negociando com a vida virtuosa com disposição e ânimo interessado e mercantilista, mas consiste em que, olhando mais além de todos os bens que nos estão preparados em esperança segundo a promessa, não tenhamos como temível mais que ser repudiados da amizade de Deus”[2].
Única coisa que devemos temer, diz São Gregório, é sermos repudiados da amizade de Deus e única coisa respeitável e amável deve ser a amizade com Deus. Nisto se resume a vida perfeita. O próprio Jesus nos chama amigos e pede a nossa amizade (Jo 15, 15). Esta amizade com Deus é o nosso grande projeto de vida perfeita. Moisés mostra-se aqui como um modelo elevado. Ele não só se faz amigo de Deus mas ajuda o povo de Deus a ser seu amigo.

Olhar para a Cruz

Esta livre escolha em ser ou não ser amigo de Deus, continua ao longo da vida. É por isso que temos a necessidade de olhar para a Cruz, para o nosso modelo e nosso Amigo. É preciso alimentar a vida espiritual com a Palavra, a Eucaristia e com as boas obras feitas por causa da Amizade. O Bem não tem limites e nem nós devemos pôr limites mas progredir o mais possível deixando-se guiar por Deus. O único limite de perfeição é não ter limites”. Como já foi demonstrado que a virtude não tem mais limite além do vício, e foi demonstrado. “Talvez a perfeição da natureza humana consista em estar sempre dispostos a conseguir um maior bem”. O convite para caminhar na perfeição é para todos os que desejarem e se despõem a caminhar na virtude.
A Amizade é-nos oferecida gratuitamente. É pelo dom de Deus e não pelos nossos méritos. A iniciativa é de Deus, e é Ele que atua na nossa história no caminho da perfeição, nós simplesmente devemos segui-Lo e não perder de vista as Suas costas. Deus vai a frente e o nosso mérito é em aceitar e colaborar no que depende de nós, a nossa resposta. Para responder, todo o tempo é tempo oportuno mesmo quando aparentemente pareça tudo contra e todo o lugar é oportuno, mesmo o deserto basta seguir a voz do Amigo. Deus se apresenta como Amigo e como modelo de vida e de amizade. E todos somos convidados, nas condições em que estamos, nas circunstâncias em que estamos, viver na Amizade. 
 
 
Ir. Arta Leka, op
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[1] Gregório de Nisa, Sobre a Vida de Moisés, Editorial Cuidad Nueva, Madrid, 1993.
[2] Ibidem, p. 62.

Comentários

  1. goatei muito de fazer esta leitura e reflexao , obrigafa ir. Arta

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  2. Gostei muito e deu para refletir e meditar Obrigada. Pela maravilhosa mensagem.

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