Santa Catarina de Sena - “Eu quero…”

 Santa Catarina de Sena (1) “Eu quero…”

“Para qualquer lado que me volte, só encontro um grande amor. Impossível achar desculpas para não amar porque Tu, Homem-Deus, me amaste antes que eu Te amasse. Eu não existia e me criaste. Em Ti encontro tudo quanto desejo”(2). É assim que Catarina eleva os seus desejos, “deseja as coisas do alto mais do que as da terra” como convida São Paulo (Col 3, 2). Procura sintonizar o seu querer com o querer de Deus. Sempre que lemos os seus escritos, há algo que nos prende a atenção. A mim desta vez, me chama atenção o “eu quero”, tão repetido nos seus escritos. Mergulha nos desejos de Deus para a humanidade porque Ele lhos vai revelar e assim aprende a “querer o que Deus quer”. “Nos ensinamentos do Teu Filho, eu compreendi Teu desejo de que me nutra continuamente com este Alimento (da Eucaristia)”(3). Ama Jesus, a Sua Igreja e ama o mundo com um amor oblativo; corajosa no modo de se corrigir e corrigir mas também age docemente sem se esquecer do puro Amor divino que é o nosso princípio, meio e o fim.

Esta audácia que tem, sendo ela mulher e, no tempo em que as mulheres eram propriedade dos pais ou dos maridos e, o seu fundamental valor era em “dar luz” aos filhos… Catarina tem uma autoridade, a que lhe vem de Deus. Toma a coragem para escrever ao Papa e em nome de Deus ordena-lhe que regresse a Roma. Escreve cartas para: as Rainhas, os Nobres, aos Bispos, Religiosos e Religiosas, e Leigos. É medianeira da Paz e conduz muitos à fé e ao amor a Deus. Trabalhou como enfermeira na grande peste que atingiu a Itália e, por fim, oferece o seu coração para ser colocado na “face leprosa da Igreja”. Deus assim surpreende na escolha desta jovem para uma missão tão difícil e tão grande.

Santa Catarina lembra-nos que “nosso pecado consiste unicamente em amar o que Deus rejeitou e rejeitar o que Deus amou”(4). É isto o que tentou fazer-nos ver e perceber que “o maligno nenhum poder tem sobre o mundo, se nós não lho dermos”. Por isso apela a responsabilidade da nossa liberdade e do nosso querer. De nos conhecermos em Deus. Vejo em mim e nos outros que o “eu quero” tem muita força no nosso dia a dia e também quero pedir a Deus para que me ajude a interrogar Ele sempre, todos os dias da minha vida: ó Deus, o que eu estou a querer muito hoje e neste momento é o que também Tu queres para mim e para os outros? Molda o meu coração, a minha vontade ó Deus conforme a Tua! “Hoje clamo diante da Tua misericórdia. Concede-me seguir a Tua verdade, com um coração desimpedido”(5)… O hoje de todos os dias. Na carta CCIV, Catarina escreve ao Papa: “Vinde, vinde, vinde e não esperais pelo tempo, porque ele não espera por vós”. Cada dia é uma nova oportunidade e graça.

Com ela quero aprender esta pergunta belíssima: “Ó minha pobre alma! Já te lembraste do Teu Deus? Certamente não, pois do contrário já estarias (envolvida) no Seu Amor”(6). Que diremos nós então? Quantas vezes esperamos que nos respeitem como nós respeitamos ou que nos tenham amizade como nós temos aos outros. Por vezes, dêmos connosco a gastar as nossas forças em vão, a esperar teimosamente que uma árvore estranha produza uvas e, nos esquecemos da Videira-Jesus de quem nós somos os ramos. Esquecemos que Deus está a “um passo”, à espera de nós… O “eu quero” da Catarina não é para o bem dela mas dos outros, para que caminhem com Deus… Santa Catarina aprendeu a amar verdadeiramente a todos ao seu alcance e o rumo certo da vontade que nos faz agir.

“Ó Sabedoria suprema e eterna! Não criaste a alma (humana) despojada, mas lhe deste três faculdades: a memória, a inteligência e a vontade, unidas entre si. Se uma delas age, as outras também. Quando a memória recorda os Teus favores, a inteligência procura compreendê-los e a vontade imediatamente O ama e segue. E como não fizeste a alma despojada, também não queres que ela produza frutos sozinha, sem amar a Ti e ao próximo”(7). E amar em Ti, ó Deus e, para Ti!

Santa Catarina de Sena, rogai por nós!

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1 Nota biográfica: Catarina Benincasa, nasce em Siena – Itália, em 1347. Sua irmã gémea faleceu no parto, ela é a última de 24 filhos do casal. Uma família de tintureiros. Seu pai não a obriga casar e cumpre os pedidos de Catarina deixando um quarto só para ela poder rezar, a mãe se opõe e faz uma tentativa de a encaminhar para o casamento pedindo ajuda a filha mais velha que morre em trabalho de parto. Catarina segue a sua promessa de virgindade que tinha feito em criança. Permanecendo como uma Leiga Consagrada, Dominicana (Mantelata). Depressa se torna muito conhecida e o Bispo encarrega um São Raimundo de Cápua como seu guardião e confessor, o qual depressa se torna seu discípulo que após a morte da Catarina em 1381, escreve a sua biografia.

2 SENA, [Santa] Catarina de., As Orações, Ed. Paulus, São Paulo (Brasil), 2006, pg. 10.

3 SENA, [Santa] Catarina de., As Orações, Ed. Paulus, São Paulo (Brasil), 2006, pg. 51.

4 SENA, [Santa] Catarina de., As Orações, Ed. Paulus, São Paulo (Brasil), 2006, pg. 31.

5 SENA, [Santa] Catarina de., As Orações, Ed. Paulus, São Paulo (Brasil), 2006, pg. 31.

6 SENA, [Santa] Catarina de., As Orações, Ed. Paulus, São Paulo (Brasil), 2006, pg 36.

7 SENA, [Santa] Catarina de., As Orações, Ed. Paulus, São Paulo (Brasil), 2006, pg. 47.

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