Da Madeira à missão

Eu, Ir. Fernanda da Conceição Cafofo, nasci e vivi na I da Madeira até aos 14 anos. Nessa altura vim para o continente com mais duas meninas um pouco mais velhas do que eu, que também queriam ser Irmãs. Tive a ajuda do Pe. Figueira da minha Paróquia (Santo António – Funchal). Ele ao vir fazer o tratamento nas Termas, sabia dos nossos desejos e acompanhou-nos na viagem com destino a Fátima. O meu desejo desde pequena era fazer uma experiência numa casa de Irmãs. Conheci as primeiras Religiosas quando passaram pela porta dos meus pais, pedindo.

 Numa das conversas com o Senhor Padre essas Irmãs, da Fraternidade Franciscana da Divina Providência, perguntaram-lhe se ele conhecia algumas meninas que quisessem ser Irmãs. O Pe. Figueira fez-me o convite e eu aceitei.

Eu era a segunda mais nova de oito irmãos de uma família simples que se ocupava na agricultura e nos bordados. Eram pessoas crentes e verdadeiramente cristãs que nos educaram na Fé desde crianças. Após a 1ª Comunhão e Crisma frequentei um grupo de Adolescentes nos Irmãos S. João de Deus, que têm uma Casa de saúde mental, perto da casa dos meus pais, onde ainda, habitualmente, vou à missa, em férias.  Os meus pais, João Cafofo e Mª de Jesus Camacho, não se opuseram à minha vinda para as Irmãs, que aconteceu no dia 25 de Junho de 1956. Após a longa viagem de barco (pois ainda não existia transporte aéreo), fomos no dia seguinte diretas ao Ramalhão para o Sr. Padre visitar uma irmã, sua sobrinha. Daí seguimos todos para Fátima para a Casa das Irmãs da Divina Providência, onde o Sr. Padre nos deixou com a morada das Termas para onde ele se dirigiu. Aí nos ocupámos, as três, unicamente a bordar uma toalha. Mas como estávamos sempre no mesmo local e sem irmos a nenhuma oração quer dentro, quer fora da casa, escrevemos ao Senhor Padre uma carta (que pedimos secretamente a um jovem passante para colocar no correio) a falar do nosso descontentamento. Ele veio ter connosco no fim das Termas e passadas umas 6 semanas fomos para o Ramalhão. Tínhamos ficado com uma conversa das Madres nos ouvidos, aquando da nossa passagem por lá.

Aí entrámos no grande grupo das Apostólicas (hoje seria Aspirantado). Participávamos em várias orações (missa, terço, etc), em diferentes serviços e estudávamos.

A 25 de Março de 1958 entrei para o Noviciado como Postulante (foi-me entregue uma saia, blusa, capinha preta e touca) até à Tomada de Hábito a 1 de Abril de 1959, data em que recebi o Hábito (com o toucado, capa, véu antigo e Rosário) e mudei o nome para Ir. Mª Diana do Menino Jesus. Fiz os Primeiros Votos a 30/4/1960 e saí do Noviciado a 11/9/1960 para o Lar da Imaculada Conceição – Coimbra, onde recebíamos jovens internas universitárias. Passados 3 anos (em Junho de 1963) regressei ao Ramalhão porque o Lar de Coimbra não era Casa Formada para fazer a Formação para os Votos Perpétuos, que emiti a 1/11/1963. Em Janeiro de 1964 fui transferida para a Comunidade de Fátima, onde estive até 1969.

A 9 de Dezembro de 1969 fui para as Missões para Angola. Lá permaneci até, 4 dias antes da Independência de Angola, que se realizou a 11 de Novembro de 1975, proclamada pelo Presidente Angolano, Agostinho Neto. Este acontecimento teve por base a situação militar e política ocorrida, um ano antes em Portugal, aquando da Revolução de 25 de Abril de 1974.

Foi uma realidade dura ter de deixar aquela enorme Missão só com o Padre Mota.  Devido à guerra, a insistência da Superiora Geral da Congregação – Ir. Sagrado Coração de Jesus, que desde Lisboa  pedia às Irmãs de Luanda para fecharem a Comunidade de  Quibaxe, levou-nos a ter que entregar as meninas às famílias e a abandonar aquele país. No inicio eu e a Ir. Adelaide António ainda colocámos algumas resistências, mas depois tivemos que nos render.   

Durante, os cerca de 6 anos que estive em Angola, colaborei na Missão, em Quibaxe – Quanza Norte. Eu e outras Irmãs íamos, até um raio de 200 quilómetros, às Sanzalas e a muitas Escolas dar Catequese, acompanhadas pelos Padres da Missão. No internato de meninas da nossa responsabilidade preparávamo-las para o seu futuro com várias atividades, entre as quais a costura e os bordados que eu lhes ensinava. Foram várias jovens que casaram a partir da nossa casa.

Na altura em que fui convidada para ir para Angola tinha a minha mãe muito doente, que veio a falecer 18 meses depois, a qual não mais voltei a ver. A minha vinda à família ocorreu passados 4 anos, data em que beneficiei da Graciosa (o estado concedia, gratuitamente, de 4 em 4 anos, a viagem aos Missionários).

Passado o mês de férias voltei a Quibaxe mais algum tempo até ser obrigada a vir. Eu e a Ir. Adelaide António saímos diretamente de Quibaxe para Luanda e de seguida com a Ir. Madalena de Pazzi para Portugal.

No regresso de Angola estive de passagem no Ramalhão e depois fui para a Madeira, Comunidade do Abrigo Nossa Senhora de Fátima, em Santo Amaro – Funchal. Lar de Crianças e Jovens em risco, Instituição à responsabilidade das Irmãs, mas obra da Diocese. Aqui estive 12 anos (de 1975 a 1988). Contribui para e educação das meninas, ensinando a bordar, a forrar cestos, etc.  

A 4 de Setembro de 1988 fui com mais 3 Irmãs  dar inicio à Fundação de uma Comunidade nos Açores, Ilha de S. Miguel, vila do Nordeste. A finalidade da ida das Irmãs foi o assumir o Lar de Crianças e Jovens em Risco, o Jardim de Infância e o artesanato da mesma Instituição – “Casa do Trabalho”. Também colaborámos na Pastoral da Paróquia e no Lar de Idosos.  Nesta casa estive 18 anos, desde a abertura ao fecho da Comunidade.  A maior parte do tempo exerci o serviço de prioresa e colaborei com a Direção na administração de toda a “obra”.

A 30 de Setembro de 2006 fui novamente para a Ilha da Madeira, para a mesma Comunidade. Continuei a apoiar no Internato, tendo a responsabilidade total de um grupo de 14 meninas, residentes numa das 5 casas, em que se subdividia o Lar das Crianças e Jovens em risco. 

De 13/10/2013 ao Verão de 2016 – Integrei a Comunidade de Portimão, que também se dedica ao acolhimento de Crianças e Jovens em risco. Estive responsável de um dos Blocos do dormitório de meninas (de 10 utentes), cuidando do grupo, vigiando e ensinando a prepararem-se para no futuro serem umas boas donas de casa. Esta Instituição recebia muitos donativos em bens alimentares, roupas, calçado,  brinquedos, material escolar, etc. Algum do meu tempo era ocupado a fazer a triagem para também distribuirmos com os mais pobres da Comunidade envolvente.


Para Paderne, Comunidade de Inserção, vim a 7/10/2016. Também foi o inicio da nossa presença Dominicana neste concelho algarvio (Albufeira). Aqui ocupamo-nos de atividades diversas junto do povo, sobretudo visitas a idosos doentes em suas casas e aos Lares de Idosos. Sempre que possível, temos momentos de oração. Colaboramos com o pároco, nas suas três Paróquias (Paderne, Boliqueime e Ferreiras), na Catequese, na limpeza dos vasos sagrados, nas diversas Celebrações Comunitárias em diferentes locais e nas reuniões dos Conselhos Pastorais, etc.




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