Divagações Espirituais: São José


“Divagar espiritualmente” na grandeza de São José, ajudou-me pessoalmente a caminhar nesta quaresma.

 Nos Evangelhos temos o essencial: nos dizem donde ele é, a sua geneologia; dizem o que ele pensou; o que ele sonhou; o que ele fez e a Missão que desempenhou. Temos igualmente a Tradição devocional de milénios na História da Igreja: “Patris Corde; Padroeiro da Igreja; dos Operários, Guardião do Redentor, Padroeiro da boa morte; Pai amado; Pai na ternura; Pai na obediência; Pai no acolhimento; Pai com coragem criativa; Pai trabalhador; Pai na sombra”.[1]

A grandeza de encontrar alegria em dar protagonismo e não querer protagonismo mas aceitar ser o Silêncio ao serviço da Palavra. “Se me pedissem para falar do homem eu diria: no princípio era a escuta e a escuta era o Homem”, escreveu um ateu e eu diria que a escuta eram Maria e José e por meio deles Deus nos deu Sua Palavra. Ele aparece no Evangelho sem palavras mas como quem acolhe a Palavra!

A grandeza de ser homem justo de tal modo que não faz justiça pelas próprias mãos ou, entregando a Maria a “leis” injustas que “davam tais poderes aos homens que, de certo modo, nem Deus os guardou para Si”[2]. (Não quero imaginar o que seria da humanidades se Deus nos tirasse a vida por causa de um pecado. É com grande dor que escutamos nas notícias acerca do aumento da violência doméstica. Só este ano são mais de 2000, só de casos denunciados). Para mim, esta justiça de São José mostra a grandeza do seu amor verdadeiro sem ser egoísta em relação a Maria.

Confesso que não gosto do papel de São José em nenhum filme que tenha visto, como o imaginam (como fazem drama ao saber da gravidez da Maria) e é normal que discordem da minha interpretação deste retirar-se de José. Vejo como quem não se sentia à altura de tão grande Missão e teme não ser capaz.   O Anjo disse: “…não temas receber Maria…” (Mt 1, 20), disse para não temer do mesmo modo como tinha dito a Maria ou a Zacarias ao saudá-los. José não é repreendido por se ter irado contra Maria, como Caim contra Abel (Gn 4, 6), ou como Zacarias por ser incrédulo e querer provas (Lc 1, 18). Não temos alguma repreensão feita pela atitude ou pelo pensamento. E é encantador ler a grandeza da prontidão e obediência após ser confortado pelo Anjo: “José levantou-se durante a noite, tomou o Menino e Sua Mãe e partiu…(Mt 2, 14)” Pela atitude, “o silêncio de José torna-se eloquente tal como as palavras de Maria, ‘Faça-se a Tua vontade como no Céu assim na terra”[3].

Vejo José como quem se sentia, não diminuído por não ter um filho da sua carne, mas engrandecido por ser pai adotivo do Filho de Deus! Saber que assim daria seu contributo paterno para que as multidões de filhos nascidos pudessem viver mais plenamente e eternamente. O Silêncio de José é como Maria no Magnificat. Porque “como Maria é chamado a acolher o surpreendente plano divino”[4].

Há três anos atrás, eu viajava numa camioneta na Alânia e, calhou sentar-me ao lado de uma senhora muçulmana. Na conversa com ela perguntei-lhe: quantos filhos a senhora tem? - Respondeu-me com serenidade e muita devoção: - “tem Deus cinco filhos em minha casa”. Me ficou gravada esta bela expressão e modo de ser mãe. Por isso meditei que com muito mais razão o terá dito São José no seu coração: “tem Deus em minha casa O Seu Filho, O meu Deus, em minha Casa! E seu Deus “era tido por filho de José”  (Lc 3, 23). Obediência mútua!! Maria e José obedeciam a Deus, o Filho de Deus obedecia aos dois e colaboraram para o mesmo Projeto da Salvação.

José foi inteligente, porque percebeu: se Quem lhe pedia algo, antes lhe deu o Seu Tudo, lhe confiou Seu Único Filho, portanto era digno de confiança. E se Deus o escolheu para um projeto da Salvação, é porque José era realmente um homem bom e de confiança. Entenderam isto todos os Santos e Santas que confiaram na Interceção e lhe tinham devoção. Nossa Madre Fundadora, Teresa de Saldanha, teve grande devoção a São José desde pequena até a morte. Cofiou-lhe a castidade, as casas que fundou colocando o nome dele e, por fim o tomou como Padroeiro da boa morte, morrendo com uma imagem dele na mão.

Ao refletir no que li, muito fica por partilhar mas chego à conclusão: de que se Deus lhe confiou O Seu Filho; muitos Santos e Santas confiaram na sua intercessão e foram atendidos; é motivo para nós meditarmos nisto, pedir-lhe ajuda, interceção para caminharmos na santidade, na “grandeza do quotidiano”, como diz o Papa Francisco. Na grandeza da escuta, na grandeza da “justiça justa”, da amizade para com Deus e cuidar dos que Ele nos confia, começando por nós próprios. (Deus tem a Arta, tem as Irmãs, tem a catequese/pastoral, o trabalho, tem a minha família e amigos/as, tem os que escuto nas notícias… e são estes os Seus filhos e filhas, por quem o Filho de Deus deu a vida). Deus nos dá todos para cuidarmos e Deus ajuda com a Sua graça e interceção dos Santos!

 São José, cuida de nós como cuidaste de Jesus e Sua Mãe e intercede por nós para que sejamos bons cuidadores!

Ir. Arta Leka, op

 

 


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