Dominismissio: Um campo de trabalho

O meu nome é Diogo do Bem, tenho 24 anos, sou ex-militar do exército Português, neste momento encontro-me a desempenhar funções na área da industria, na região de Aveiro.
  Com apenas 24 anos de idade, posso dizer que já sou um jovem algo vivido, com várias experiências diferentes na vida, no entanto, digo aqui que sem dúvida alguma o Dominismissio foi das experiências mais marcantes que vivi até hoje, senão mesmo a mais marcante. Acompanhado de apenas uma mochila, abandonei durante o período de 9 dias, o conforto do meu lar, da minha família, a minha rotina. Deixei de estar com os meus amigos e familiares para estar inserido num grupo de pessoas que nunca antes tinha visto. Nunca na minha vida imaginei que algo assim fosse acontecer.
O Dominismissio proporcionou-me muito mais do que a experiencia de voluntariado. Proporcionou também momentos de reflexão, de convívio, de paz interior.
Eu não sei qual o motivo de cada pessoa que os leva a participar num campo de trabalho desta dimensão, forte, motivador, gratificante, cansativo mas a cima de tudo incrível. O meu motivo certamente é diferente do dos outros, mas nunca melhor ou pior que o deles. Juntei-me à missão porque quando a catástrofe de Pedrogão Grande aconteceu, a caminho do trabalho, no meu carro, passavam dezenas de carros de combate aos incêndios e só se ouvia relatos das tragédias. Sentia-me impotente, uma pessoa querer ajudar e não poder fazer nada. No Dominismissio vi a oportunidade de ajudar a sociedade, fazer algo pelos outros, porque a questão aqui não era “o que os outros poderiam fazer por mim”, mas sim “o que poderia eu fazer pelos outros”.
Foto da UCI Pedrógão 
Hoje em dia, esquecemos-nos imenso das pessoas da terceira idade, de pessoas com problemas mentais ou motor, eu mesmo esqueço-me, e esta semana não só me fez ver, mas também sentir que existe muito mais para aprender, que temos de nos entregar muito mais a quem nós tentamos evitar. No nosso dia-a-dia apenas olhamos para nós, esquecemo-nos do próximo, estamos sempre stressados, uma correria enorme para conseguir fazer tudo, e no entanto chegamos ao fim do dia sem qualquer satisfação na nossa pessoa, sentimos que fizemos muito mas no entanto não fizemos nada. Em Pedrogão Grande, senti que o pouco que fazia, uma coisa tão simples como ouvir, dar um sorriso, um aperto de mão, um beijo, um abraço, um passeio pelo jardim, um esforço para entender o que pessoas com dificuldade na fala dizem, fazia toda a diferença e tornava a vida de muitos mais alegre. Em dias como esses eu posso dizer que me sentia uma pessoa imensamente feliz ao ver que podia fazer diferença na vida de alguém que já sofreu tanto, alguém que já teve tanto e que agora não tem nada.
Foto de Maria Carolina Silva

A cada dia é feita uma reflexão, uma avaliação do nosso dia. Em grupo são partilhadas as experiências, umas mais fortes que outras, mas todas elas algo marcantes para cada um, que irão para sempre ser transportadas no coração de cada um. Acompanhada pela oração, esta faz-nos sentir algo diferente em nós. A mim fez-me sentir que talvez nós estejamos neste mundo por algum motivo, não apenas para comer, dormir e trabalhar. Se calhar alguém tem um projecto maior para nós, só temos de ser encaminhados.
Hoje, encontro-me sentado na minha secretária a escrever este pequeno desabafo, e a minha vontade é só uma, juntar a equipa maravilhosa em que fui inserido e voltar para lá com eles, voltar a ver o sorriso daquelas pessoas que já não sorriem, que dizem que estão apenas a aguardar a morte.
Um Forte e grande obrigado a quem torna tudo isto possível, fizeram de mim uma pessoa realizada, fizeram de mim uma pessoa com um propósito para aqui estar.
Diogo do Bem 

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