Será que a genética determina quem sou? - Parte II
Está tudo nos genes
Texto sociológico elaborado por Beatriz Marques
(Uma pequena síntese do 1º texto – [Na 1º parte, publicada, a 30/10/2020; Link: https://dominismissio.blogspot.com/2020/10/sera-que-genetica-determina-quem-sou.html - Foi feita uma contextualização histórica. Com o objetivo de edificar uma sociedade harmoniosa, justa e igualitária. Houve diversas tentativas de explicar a ordem publica e as desigualdades sociais: a filosofia; a teoria da evolução, (em1859) por Charles Robert Darwin (1809-1882); a popularização do neodarwinismo, em que a tese da seleção natural passou a sustentar a ideologia da sociedade hierárquica; surgem várias teorias e Lewontin refuta o determinismo biológico. Estas questões tem de ser analisadas com imparcialidade “o produto da ciência tem de resultar numa verdade universal. (…)A sociedade é resultado de comportamentos individuais e que como estes formam as sociedades, estas são feitas por genes.”])
Surge então a questão: “Se efetivamente
está tudo nos genes, é a própria posição social resultado inevitável das
deficiências inatas de cada um?”. Numa primeira análise pode-se dizer que não há
mesmo nada a fazer quanto a isso, porém a criatividade humana cria slogans (que muitas vezes excedem a
realidade) a apelar às grandes massas pela defesa do ideal de igualdade (principalmente
nos órgãos de comunicação social). Defende ainda a rutura relativamente às grandes
desigualdades de riqueza e poder entre indivíduos, géneros, raças e nações. Como
tais revoluções já ocorreram em séculos anteriores e mostraram-se sempre
insuficientes, muitos afirmam que efetivamente a desigualdade é estrutural e
integral. Mas todos devem começar na linha de partida da corrida, que é a vida,
e ter igualdade de oportunidades, sendo necessário instigar outra revolução ou
dar novo brilho à ideia de igualdade, o que permitirá uma distribuição natural
para decidir os direitos de cada um (onde todos serão recompensados
diferencialmente atendendo que uns correm mais depressa que outros). (2)
Impõe-se assim a pergunta: “O que é que
impede as pessoas biologicamente inferiores de atingir o poder das superiores?”
Apesar da entropia social ser otimizada para se ter igualdade tanto quanto
possível, as desigualdades são evidentes, não estruturais e baseadas em
diferenças inatas entre os indivíduos. Contudo, afirmar que a corrida da vida é
justa e que pessoas diferentes têm habilidades intrínsecas diferentes não é
suficiente para justificar as desigualdades. (2)
Afigura-se urgente interrogar: “Numa meritocracia, como se explica a passagem de poder social para a descendência?” Sendo um argumento insuficiente, a noção original de herança social e económica transformou-se em herança biológica, em que a diferenciação das capacidades inatas presentes nos genes é transmitida biologicamente de geração em geração. Veja-se o exemplo das crianças que facilmente adquirem as posições sociais dos pais devido ao papel preponderante da sociedade que teima em persistir. Efetivamente, existem certas semelhanças congénitas entre todos na medida em que as diferenças codificadas nos genes garantem que as diferenças nas capacidades fundamentais poderão ser convertidas na posição social. Ainda de acordo com o determinismo biológico, isto leva a uma sociedade naturalmente hierárquica, em que a recompensa e a posição social igual é biologicamente impossível. As mudanças das condições de desempenho são ainda irrelevantes porque o que conta são só as aptidões básicas. Todavia, para além de não existirem graus de aptidão sem qualquer ajuda externa, havendo por isso uma confusão entre o que é herdado e estático, segundo Lester Frank Ward e Arthur Jensen, instrumentos como a educação garantem que a corrida da vida é dirigida suavemente, levando a uma potencial subida social. (2)
Não se é determinado pelos genes mas sim
influenciado pelos mesmos
pois o desenvolvimento não só depende do material herdado dos pais como também
da nutrição, temperatura, humidade, cheiros, visões, sons... Mesmo que se
conheça a especificidade molecular de todos os genes de um organismo não se
poderá prever o que esse organismo se tornará. As variações aleatórias entre
indivíduos são consequências da constante interação indissolúvel (modelada pelo
crescimento e divisão celular) entre os genes de cada um e do ambiente em que
se encontram. Estima-se que 80% das diferenças entre indivíduos são causadas
pelos genes e 20% pelo meio. O conjunto de células que produz um organismo transforma-se
a cada passo, logo dois organismos geneticamente diferentes que se desenvolvam
num mesmo ambiente, serão sempre diferentes. Tal diferença não pode ser traduzida
em capacidades diferentes porque o tipo genético que era superior num ambiente
pode ser inferior num segundo ambiente de desenvolvimento. Uma mudança no
ambiente pode transformar aptidões em vários graus de importância. Abolindo as invenções
culturais e mecânicas, as distinções entre indivíduos atribuídas às diferenças
genéticas num determinado ambiente podem desaparecer, por completo, noutro. Como
as variações ambientais e genéticas não são caminhos causais independentes, a diferenciação
entre pessoas é consequência direta das diferenças genéticas que dependem do
ambiente e reciprocamente, da variação ambiental dependente dos genes. A
oposição entre a genética e o ambiente não é o contraste entre o fixo e o movediço.
Mais ainda, tais diferenças devem ser consideradas não só a nível individual
mas também a nível populacional. (2)
A grande dificuldade da genética humana repousa
exatamente no grau de influência dos genes nas diferentes características dos
seres humanos. Pessoas que estão estritamente relacionadas entre si partilham
não só mais genes, como também o ambiente (familiar e social). Ao contrário do
que se poderia supor não existe diferenciação genética entre grupos (sociais e
raciais) no que toca a comportamentos, temperamento e inteligência (usadas para
discriminação económica). Existe em geral muito menos diferença genética entre
raças do que se poderia assumir numa primeira abordagem. A maioria (80 a 85%) da variabilidade humana
é superior dentro do mesmo grupo étnico do que entre raças diferentes (1 a 15%).
(2)
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2. Lewontin, R.C. (março de 1998) A Biologia como ideologia: a doutrina do DNA. Lisboa: Relógio D´Água Editores pp. 18-65.
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