Ir. Rosália: missionária
(cont. 2ª parte) Quando professei, isto é, fiz os primeiros votos de pobreza, castidade e obediência, achava-me indigna de tão grande graça. Aqueles 20 meses que precederam a minha profissão foi o tempo mais delicioso da minha vida. Recebi graças muito grandes que me moldaram. Eu sentia que estava a acontecer em mim uma verdadeira metamorfose. Trabalho, oração, silencio, recreação, Eucaristia diária e Sacramento da Reconciliação mensal, tocava todas as fibras do meu ser e me preparava para a missão ad gentes que me esperava.
Em setembro de 1959 o primeiro grupo de 8 irmãs
foram para terras além mar. Quatro foram para Angola e 4 para Moçambique. Eu
era uma noviça fresquinha.
No ano seguinte, 13 meses depois,
fiz os primeiros votos de consagração. Passei a pertencer ao grupo de professas
da Comunidade, já podia ir para outras paragens. Alguns meses depois, a Madre
Sagrado Coração de Jesus num dos recreios pergunta a todas: quem aceitaria ir
para as missões? Eu não hesitei pus logo a mão no ar. Eu sonhava antes de mais
dar-me generosamente onde quer que fosse, e até me atraía o mais difícil.
Ok. Tudo bem, a oferta estava
feita e aceite. No ano seguinte fui enviada para a Comunidade da Parede onde
havia possibilidade de estudar, mais um pouco e fazer o Curso Geral de
Catequistas. Foi um ano intenso de formação para ser enviada. Olhando para trás,
agora posso ver como Deus prepara tudo. Porquê fazer o curso de Geral de
catequese? Deus sabia que era uma das atividades que me destinava para o resto
da minha vida.
Em fevereiro de 1961 foi o
assalto ao barco de santa Maria em alto mar. Em Angola, em fevereiro, tinha
começado a guerra pela independência. A situação política e social, estava
quente.
Acabado o ano letivo voltei ao
Ramalhão para preparar a mala. Óh, como estava feliz!
Lá chegou o dia que já não
recordo, mas lembro que foi em setembro de 1964.
Viajei no barco “Vera Cruz”, 9
dias de céu e mar e de enjoos. Mas foi bom! Viajei como outras Irmãs que também
iam rumo a Naamacha, Moçambique, onde mais tarde eu também iria parar. Tínhamos
Eucaristia todos os dias no barco.
Minha primeira Comunidade foi em Salazar, agora Ndalatando. Aí tínhamos um colégio recém - fundado e
atividades com o povo nas aldeias. Foi aqui que me estriei a dar catequese que na altura lá, ainda era só nas escolas que se preparavam as crianças para a receção dos Sacramentos. Recordo a primeira aula ter sido assistida pelo diretor da escola pública. Eu era uma garota mas acho que me saí bem porque daí para a frente tinha perdido toda a minha timidez. Estive 2 anos em Ndalatando e vim a Portugal
fazer os votos perpétuos, uma vez que lá ainda não os podia fazer. Quando
regressei de Portugal minhas Superioras mandaram-me ficar em Luanda, na nova
Comunidade aberta para receber estudantes. Aí fiquei até 1975, as coisas iam
correndo já com alguns sustos, mas as pessoas respeitavam muito os
missionários.
Em Luanda tínhamos um lar
universitário construído de raiz, para onde mudámos em dezembro de 1972 e onde
recebíamos as estudantes de todo o país que vinham para a universidade, aí
estivemos até 1975, cuja situação nos abalou e por altura da Independência como
tantos outros, também vim.
Esses anos trabalhava no lar onde
tínhamos 82 pensionistas universitárias. A um grupo de jovens auxiliares das
tarefas domésticas que eram da parte da manhã, de tarde, eu dava aulas até ao
4º ano de escolaridade e uma tarde por semana ensinava a costura. Também sempre
trabalhei na paróquia da Sagrada Família com os padres Redentoristas, quer como
catequista quer como sacristã. No lar novo que construímos como tinha muito
espaço tínhamos lá um centro de catequese da infância e também, a pedido de uma
senhora que queria colaborar, criamos dois grupos de aulas de alfabetização de
adultos, e que correu bastante bem. Isto infelizmente só durou uns 2 anos, uma
vez que, por força das circunstâncias a comunidade teve de abandonar o lar
tomando o Governo posse da casa, até regressar a paz definitiva e a ida de São
João Paulo II a Angola.
Só lá ficaram 4 irmãs. Mas não gostei de ter abandonado aquele povo numa altura daquelas e prometi a mim própria que deveria voltar, logo que possível.
Senhora da muxima,
Meu refúgio e trincheira,
Quando do abismo,
Desesperado me sinto á beira.
Senhora da Esperança,
Nossa Senhora da Graça,
Mãe que sempre nos vela.
Com amor na desgraça.
Senhora dos refugiados,
Que fugindo da guerra vão,
Ansiando pela paz,
No íntimo do coração.
Senhora do deslocado,
Sem eira nem beira,
Dormindo sem capulana,
Debaixo da mangueira.
Senhora do mutilado
Sem perna saltando,
E com a alma partida,
Vai esmola mendigando.
Senhora da ternura,
De olhar cristalino,
Sempre protegendo
O órfão menino.
Rainha do povo Angolano,
Mãe do meu Senhor,
já chega de sofrimento,
Dá-nos a paz, por favor.
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