Moçambique - Outra missão

(cont. Irª Rosália Lincho, parte 4)
A Ir. Rosália Lincho, natural do distrito de Aveiro, fez as suas Bodas  de ouro este ano, viveu muito tempo a missão "ad gentes" isto é fora de Portugal, no caso dela, em Angola e Moçambique, está a contar a sua história vocacional e hoje falará sobre os anos que esteve em Moçambique! 

Fui para lá em janeiro de 1997 destinada á missão do Chongoene, que tinha um santuário de Nossa Senhora de Lurdes que fora construído em 1909 pelos padres franciscanos.  Depois da independência do país também a casa ficou entregue às moscas, e a igreja deserta.

Entretanto pouco tempo antes de eu chegar a casa foi entregue à Diocese e estes convidaram as Irmãs a ocupar a casa. Quando lá cheguei, já lá estavam 4 Irmãs jovens. Encontrei ainda baratas até se apanharem com uma vassoura e que fugiam como espíritos imundos. Começou a resolver-se o problema quando despejei nos canos um qualquer produto, as gaijas ficavam atordoadas e de manhã eu conseguia com uma vassoura varrê-las, até apanhar  quantidades industriais.

Depois era a selva dos morcegos. Saíam pelas 18 horas e entravam de madrugada pelos beirais. Depois de muitas diligências para também erradicar a morcegada do sótão da casa sem sucesso, aparece-me no jardim um meigo e misterioso gatinho a quem dei alguns mimos. Lembrei-me de o deixar passar um dia de fome e o colocar no sótão, ficou lá um dia inteiro. Quando á tarde fui vê-lo vi o animal com um morcego na boca. Foi uma festa porque tinha encontrado o inimigo dos morcegos. Passei a colocar lá a animalzinho de dia que era tempo dos morcegos sonegarem. Dentro de uma semana estes habitantes estavam desalojados e sem regresso. Muito grata lhe fiquei. Abençoado gatinho.

Pois nosso trabalho era de ir às comunidades. Dar aulas de costura e alfabetização a adultos. Também ali nasceu uma fraternidade de leigas dominicanas que ainda hoje parece que está viva.

Como o nosso excolégio havia sido entregue e precisava de restauração também lá andei eu uns bons meses a tratar do assunto até que, graças a Deus, as Irmãs pudessem de novo ocupar a comunidade e internato que foi o salva-vida na hora amarga das cheias.

Depois vieram as famosas cheias do ano 2000. De colaboração com os Padres e as irmãs evangélicas por lá andamos uns 4 ou 5 meses a ajudar naquelas andanças.

Depois vim passar umas férias a Portugal, ainda de mala á cabeça, de barco etc. pois as cheias destruiram a ponte do Limpopo e a cidade toda.

 

                         Vi  um Lobolo

Vi uma festa em Gaza, na casa de uma amiga,

Um contexto parecido, á “venda” de uma rapariga.

A lista  de coisas materiais, á laia de pagamento,

Pausadamente desfilava, naquele grande momento.

 

A principal personagem, era uma jovem bonita,

Seus pais recebiam ávidos, aquela troca infinita.

O noivo ficava empenhado, por tal ter que pagar,

E volta á Africa do Sul ás minas sem a noiva levar.

 

Ela vai para casa da sogra, cheia de sonhos a palpitar,

Os sonhos começam a ruir, até que tudo venha a mudar.

Mas virá  um dia que a jovem, possa escolher seu amado

Não tendo que ficar sujeita a este negócio tramado.

 

Sim, temos confiança, muita coisa irá mudar

E então serão os jovens, que projetarão um novo lar. 

 A  pedido do Diretor na Rádio Maria, de Maputo, colaborei um ano, que vivi lá, com um tema semanal sobre o Pão da Palavra, que era gravado e depois emitido, duas vezes por semana.

Nestes anos sobretudo de 1982 tanto em Angola como em Moçambique, até voltar de vez, muitas histórias e peripécias aconteceram. Umas tristes, como é normal em tempo de guerra e de falta de muita coisa, do essencial à vida, mas também de algumas coisas inéditas e interessantes. Sabem o que é comer um ovo assado na brasa, por não haver água para o cozer? Pois bem sei eu e posso ensinar. Sabem como se faz tijolos para fazer um tanque para apanhar água das caleiras, por não haver água corrente. Eu posso ensinar.

Depois enviaram-me definitivamente, para o meu país, onde tenho vivido a minha missão em Portugal, também recheada de vida e alegria, desprendimento, amizades e, sobretudo com um grande desejo de doar-me totalmente ao Senhor e aos irmãos, pois foi para isso que Ele me deu a vida e a vocação, o que lh´E agradecerei eternamente e nunca o farei suficientemente, nem tão bem como o Bom Deus merece.

Não vim por vontade própria, mas agradeço a Deus tantas graças que recebi e algumas contrariedades que me enviou. Por tudo dou graças, e aqueles queridos povos que me aturaram tanto, 32 anos em Angola e Moçambique. Em Moçambique estive participando uns meses no acolhimento e distribuição de alimentos, no ano 2000 quando daquelas inesquecíveis cheias desse ano. (cont.)

Ir. Rosália Lincho, op  


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