Ir. Rosália: regresso a Angola

( parte 3 - continuação) Entretanto até que amainassem os ânimos fiquei em Portugal, fiz um Curso técnico em Braga e mais alguns estudos académicos. Entretanto fui enviada  para Dornelas do Zêzere comunidade recém aberta,  só lá estive um ano.

Foi convidada por um padre de Cedrim do Vouga para apoiar as catequistas de 2 paróquias. Depois, o Senhor Bispo de Aveiro, D. Manuel Almeida Trindade, informado,  pediu à Madre Geral da altura para eu dar aulas no Seminário menor de Calvão. Aí fiquei 2 anos e eu própria não me sentindo aí à vontade, pedi para não continuar, com muita pena do Senhor Bispo.

Em seguida fui parar a Castro Daire, onde fui muito feliz, por poder semear aí sementes do Reino, que o bom Deus fecundou, na catequese. Um dia lá germinaram duas vocações: a Ir. Conceição Lopes e o Pe. João Carlos Morgado. Que o Senhor os abençoe na sua generosidade e no acolhimento do chamamento que lhes fez.

Por circunstâncias que não é fácil explicar chegou a hora de cumprir minha palavra e regressar a Angola. O ambiente aí ainda era quente e carente, mas isso já não me assustava.

Assim aconteceu; em 1982, já sem algum medo, de tudo o que pudesse acontecer. Com efeito sob bombardeamentos, assaltos, emboscadas pelos caminhos, etc. Lá continuei a trabalhar em Luanda, Kuanza Norte 6 anos, e em Benguela mais 7 anos até que fui enviada para Moçambique, onde estive 5 anos.

Poema

Benguela, bem te recordo

Jardim á beira mar plantado

Com teu encanto sedutor

Para os que por ti tem passado.

                                                     Tua gente simpática,

                                                    Gesto amigo, acolhedor,

                                                    Não se cansa de lutar,

                                                    Para que o mundo seja melhor.

 Ruas de acácias rubras,

Dão o tom à cidade

Tuas festas religiosas

Fazem crescer a amizade.

                                                 Teu povo crente

                                                Reunido em multidões

                                                Exprime fé e calor

                                                Em festas e celebrações.

 A Igreja a todos serve

O povo sabe bem.

Que seria de tantos famintos

Se não fosse esta Mãe.

                                                        Aí senti fundo, o sabor

                                                        Daquilo que é o dom da paz

                                                        A festa da vida e do coração,

                                                        Que só a ausência da guerra traz.

 Depois de 1982

Em Benguela, o meu trabalho, naqueles 7 anos era: de manha trabalhava no gabinete, cartório, do Senhor Bispo D. Óscar Braga e, de tarde assumi a restauração e serviços do Secretariado Diocesano de catequese, onde dinamizava publicações, formação de catequistas e cursos de formação. Fazia-se o mais urgente e melhor possível.

Com a colaboração das Monjas Dominicanas, que tinham um Mosteiro lá, criei uma Fraternidade, que lá ficou e ainda hoje, graças a Deus e aos esforços das Irmãs e de outros membros da Ordem, está muito viva. Ainda dei um tempo, aulas de português a um grupo de Irmãs juniores. As vezes fazia de taxista e tarefeira. Era o que fosse necessário. Em toda a parte onde estive sempre procurei dar catequese a um grupo na paróquia a que pertencia.

Depois veio a Independência. Antes disso, viajar era um grande risco. Dizia-se que só andavam nas estradas, e em colunas militarizadas os MMMs, ou seja: os militares, os missionários e os malucos. Os missionários se levassem uma freira de véu branco tinham a sorte mais garantida.

Agora vamos até Moçambique, é rápido entrem no avião sobrevoem o cabo da boa esperança e aterrem comigo. (Cont) 

 Ir. Rosália Lincho

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