Será que a genética determina quem sou? - Parte IV
Texto sociológico elaborado por Beatriz Marques
(texto 4) – [Este artigo pretende analisar do ponto de vista sociológico o determinismo biológico. O 1º texto publicado a 30/10/2020 - https://dominismissio.blogspot.com/2020/10/sera-que-genetica-determina-quem-sou.html - faz a contextualização histórica da questão. O 2º texto publicado a 16/11/2020 - https://dominismissio.blogspot.com/2020/11/sera-que-genetica-determina-quem-sou.html - parte da questão, se está tudo nos genes. Mostra que não se trata de determinismo, mas sim influência. “Estima-se que 80% das diferenças entre indivíduos são causadas pelos genes e 20% pelo meio“. Já no 3º texto - https://dominismissio.blogspot.com/2020/12/sera-que-genetica-determina-quem-sou.html - publicado a 4/12/2020 são abordadas algumas falácias. A questão racial "foi exponencialmente difundida no século XX para, acima de tudo, salientar a heterogeneidade entre grupos compostos por indivíduos homogéneos (...)o que na verdade é improvável na medida em que todos são diferentes independentemente de pertencerem ou não a uma mesma etnia." Aborda também a questão da flexibilidade humana.]
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A ciência é uma atividade social que
deve observar toda a riqueza da interação da natureza e promover um ceticismo
razoável acerca das pretensões que constrói para a compreensão da existência
humana e resolução dos respetivos problemas. (2)
Porém, existe uma tendência para as
ciências biológicas privilegiarem o gene como única origem explicativa da vida
individual. Assim, a biologia cria slogans, cuja pretensão reside em responder
a manifestações de ordem ideológica, de forma engenhosa e sedutora. Dissimuladamente,
a hierarquização e as desigualdades são mantidas porque são explicadas a partir
de um fenómeno natural. Lewontin nega que exista uma natureza imutável,
entendendo que o slogan “tudo depende dos genes” tem marcado a cultura
política, de modo a justificar a seleção social que decorre dos interesses de
alguns em detrimento de outros grupos constitutivos das sociedades. (1)
Não se deve confundir portanto ciência e
ideologia, mesmo não sendo possível à primeira libertar-se eficazmente da segunda.
As convicções têm demasiada força e guiam a pesquisa sob orientações e
objetivos que vão de encontro aos interesses instalados, culminado em
conclusões erróneas. O reducionismo biológico como explicação do mundo, da
sociedade e do Homem, filosofia do ser vivo e justificação de valores tem assim
graves defeitos. (2, 5)
Em suma, as escolhas não estão
programadas por condicionalismos inculcados à nascença. O organismo é um construtor ativo do seu próprio ambiente e não um
recipiente passivo das influências, como consta na perspetiva
darwisnista evolutiva tradicional. Assim,
uma sociedade não engloba apenas a soma das tendências de cada um dos
indivíduos que a constituí, mas também a aceitação das suas diferenças
genéticas, acentuadas pelo meio sociocultural que os marca profundamente. (2,5)
Os genes e o ambiente não devem ser catalogados como causas
separadas pois interagem de maneira a não ser possível definir as partes
que cabem às terminações de cada um. A realidade é um entrelaçamento
íntimo, complexo e simultâneo da ontogenia e do meio físico-social, sendo um contra-senso
opô-los. Acredita-se pois num ponto de
vista construtivo, em que o organismo cria o ambiente que lhe é próprio,
dando realidade ao seu meio. Este não tem existência fora do organismo, nem
este último pode existir sem se combinar com o mundo exterior. À semelhança da teoria adaptativa, à
medida que o organismo cria e vive, multiplicam-se ambientes sucessivos que se
encaixam, penetram, entranham, moldam e misturam, onde o produto final se perpetuará nas gerações futuras. (2, 5)
Urge que a própria elite científica se
preste ao serviço dos interesses dos segmentos que defendem o desaparecimento
das desigualdades humano-sociais, ao não aderirem a movimentos enganosos. Nesse
sentido, a verdade científica produzida terá de primar pela imparcialidade,
objetividade e, em situações extremas, autoreformulação. Entretanto, cabe
também aos cidadãos comuns debruçarem-se sobre os dilemas humanos e na forma como
os domínios do saber podem contribuir para a resolução dos mesmos, estando
sempre latente a ideia de que o que os une é mais do que os separa. (1)
Gostei muito de ler esta mensagem ela vai me ajudar a refletir sobre o Natal. Obrigada e desejo vos um Feliz e Santo Natal.
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